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ANÁLISE-Região russa do Cáucaso do Norte vive 'afeganização'

Por MICHAEL STOTT
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O ataque mais violento em anos no Cáucaso do Norte, na Rússia, mostra que a "afeganização" da região de maioria muçulmana vem ocorrendo rapidamente, alimentada pela pobreza, pela corrupção, pelas guerras entre clãs e pela brutal imposição da lei. Analistas afirmaram que o ataque suicida que deixou ao menos 20 mortos numa delegacia de polícia da república da Inguchétia, no sul da Rússia, foi o mais recente golpe nos sonhos do Kremlin de conter a violência islâmica e comprar a paz com a receita do petróleo. Nas repúblicas pobres que formam o Cáucaso do Norte, a violência atingiu neste verão níveis não vistos em anos. Ataques a bombas, tiroteios e sequestros têm ocorrido principalmente na Chechênia, na Inguchétia e no Daguestão. Svante Cornell, diretor de pesquisas do Central Asia-Caucasus Institute, na John Hopkins University, em Washington, afirmou ter cunhado pela primeira vez o termo "afeganização" há 10 anos para descrever a deterioração do Cáucaso do Norte. "Há toda uma mescla de questões combinadas para criar uma situação muito instável similar ao Afeganistão dos anos 1990", disse ele. Isso inclui o crescimento do islã radical, aumento no desemprego e ineficácia do governo regional. Durante o boom econômico da Rússia nesta década, o melhor que o governo fez, afirmou ele, foi reduzir o declínio da situação graças ao uso do dinheiro do petróleo para incrementar os gastos, mas ele não resolveu nenhum dos problemas fundamentais da região. Agora, com menos dinheiro disponível e o país mergulhado na crise econômica, os problemas agravaram. O Kremlin alardeou ter alcançado sucesso na Chechênia este ano, afirmando que a normalidade havia sido restaurada graças a uma dura repressão aos rebeldes promovida pelo presidente Ramzan Kadyrov e a um programa de reconstrução financiado por Moscou. Um suposto atentado contra a vida de Kadyrov, junto com uma série de assassinatos de ativistas de direitos humanos, de inimigos de Kadyrov e de rebeldes, acabou com a imagem de normalidade. "Infelizmente, a chamada normalidade de Kadyrov era alcançada apenas com a remoção de qualquer pessoa que pudesse discordar dele; e isso apenas gerou mais violência", comentou um diplomata.

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