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Ativistas denunciam 'carrossel' de fraude eleitoral pró-Putin

Por THOMAS GROVE
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Dias antes da eleição presidencial russa, Sergei Smirnov recebeu um telefonema de um homem que se identificou como Mikhail e lhe fez uma proposta: votar quatro vezes em Vladimir Putin em troca de 2.000 rublos (70 dólares). A quantia foi prometida a dezenas de jovens que se reuniram no domingo em frente a uma popular lanchonete da periferia de Moscou, esperando para serem levados a várias seções eleitorais na província que envolve a capital. Smirnov, que é jornalista, disse que ficou sabendo desse grupo semanas antes da eleição, por intermédio de um amigo. Mikhail, a quem ele conheceu pessoalmente no domingo de manhã na estação de metrô Yugo-Zapadnaya (sudoeste), lhe passou as instruções finais. "Ele disse que deveríamos votar em Vladimir Putin, fotografar a cédula, e lhe mandar a foto por telefone", disse Smirnov. O jornalista é um dos vários ativistas que se infiltraram num "carrossel" de eleitores, como os russos chamam as pessoas que depositam votos em várias seções eleitorais, usando documentos reservados para eleitores em trânsito. É uma prática que, segundo críticos, tem turbinado os candidatos governistas desde que Putin foi eleito presidente pela primeira vez, em 2000. A prática teria sido usada inclusive na eleição parlamentar de dezembro de 2011, na qual suspeitas de fraude motivaram os maiores protestos contra Putin em seus 12 anos de hegemonia política. Políticos de oposição disseram que a fraude voltou a se repetir no domingo, quando Putin foi eleito com mais de 60 por cento dos votos para mais um mandato presidencial de seis anos. "Ninguém esperava esses carrosséis ... É um completo descaramento", disse o ativista Alexei Navalny, um dos líderes dos grandes protestos programados para a segunda-feira em Moscou e outras cidades. Navalny, que mobilizou observadores nas seções eleitorais, disse que passou o domingo todo recebendo relatos de possíveis violações. Acusado pelas acusações de fraude na eleição parlamentar, Putin (atualmente primeiro-ministro) determinou a instalação de milhares de câmeras nas seções eleitorais da votação presidencial, e num discurso de vitória afirmou que o pleito foi "uma luta aberta e honesta". Mas críticos dizem que houve muitos casos de fraude como o "carrossel" que Smirnov encontrou. A Golos, entidade que reúne observadores independentes, disse ter recebido mais de 3.500 relatos de possíveis violações em nível nacional. (Reportagem adicional de Alissa De Carbonnel)

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