A figura mais popular da campanha para as eleições gerais de domingo na Alemanha ostenta um farto bigode, arrota em rede nacional e acha que o serviço de saúde deveria oferecer cirurgias plásticas. As propostas absurdas de Horst Schlämmer e seu ar canastrão seriam inaceitáveis na tradicional política do país se não fosse por um pequeno detalhe: ele não existe.
Schlämmer é o alter ego do comediante alemão Hape Kerkeling, que aproveitou a campanha eleitoral para lançar o filme Eu sou candidato. A popularidade do concorrente fictício é tanta que a entrevista coletiva convocada para anunciar sua candidatura de mentira foi transmitida ao vivo por dois canais de TV.
O filme, que entrou em cartaz em meados de agosto, mostra Schlämmer em encontros com celebridades e políticos de verdade. "É muito interessante ele ter conseguido fazer com que integrantes da classe política participassem", afirmou ao Estado o analista Josef Schmid, da Universidade Tübingen. "Espero que, com isso, os partidos tornem-se mais atrativos."
Em uma campanha considerada tediosa pela imprensa local, Kerkeling conseguiu conquistar o eleitorado. Na última pesquisa da revista Stern, 18% dos eleitores afirmaram que votariam em Schlämmer. "Quase sem querer, Kerkeling tornou-se importante para a campanha", disse Schmid. "Suas piadas refletem a insatisfação popular com o processo."
No filme de Kerkeling, Schlämmer é um editor de jornal que, impulsionado pelo sucesso da campanha do presidente americano, Barack Obama, decide concorrer ao cargo de chanceler.
Sua plataforma inclui garantir um salário de US$ 3,5 mil para cada alemão desde o nascimento e o fim da lei que restringe o fumo em lugares públicos. Além disso, defende que cirurgias plásticas e sessões de bronzeamento artificial sejam gratuitas. Ele chegou a sugerir mudar o símbolo da república: no lugar da águia, que representa força e independência, Schlämmer prefere um coelhinho.
As promessas do "candidato" podem soar bobas, mas alguns projetos de partidos que estão concorrendo para valer - como a promessa de "riqueza para todos", do Partido A Esquerda, ou o projeto do Partido Social Democrata (SPD) de criar 4 milhões de empregos em dez anos - também soam improváveis para os alemães.