Cardeal francês critica plano do governo de legalizar união gay

PUBLICIDADE

Por TOM HENEGHAN
Atualização:

O principal prelado da Igreja Católica na França, o cardeal de Paris, André Vingt-Trois, disse neste sábado que um plano do governo para legalizar casamentos entre pessoas do mesmo sexo iria afetar profundamente o equilíbrio na sociedade francesa, e acrescentou que se trata de uma reforma para poucos, não para a maioria. Em declarações durante peregrinação à cidade de Lourdes, o cardeal pediu aos católicos que mostrassem sua oposição aos planos de reforma do casamento, escrevendo para seus representantes eleitos e falando com eles, como também por outros "meios democráticos de expressão". Seu chamado à ação, anunciado durante uma reunião plenária anual de bispos católicos franceses, foi feito num momento em que o governo do presidente François Hollande, de tendência esquerdista, se prepara para apresentar ao gabinete seu projeto para o casamento de pessoas do mesmo sexo, na quarta-feira. Líderes religiosos franceses - na maioria, católicos, mas também judeus, muçulmanos, protestantes e cristãos ortodoxos - e políticos conservadores se mobilizaram contra uma medida que permitiria a casais gays adotarem crianças. "As eleições presidenciais e legislativas (no começo deste ano) não lhes deram carta branca, especialmente para reformas que afetam muito profundamente o equilíbrio de nossa sociedade", disse Vingt-Trois, que qualificou como "fraude" a reforma planejada. "Não será casamento para todos", afirmou ele, citando o slogan da campanha pró-reforma. "Será o casamento de uns poucos imposto a todos." PROTESTOS PLANEJADOS Pesquisas de opinião indicam que desde o início da campanha da oposição, no último verão europeu, o apoio ao casamento de pessoas do mesmo sexo perdeu vários pontos, ficando abaixo de 60 por cento, e quanto à adoção de crianças por casais homossexuais, para menos de 50 por cento. Um levantamento do instituto BVA, publicado neste sábado pelo jornal Le Parisien, diz que essa foi a primeira queda no apoio depois de uma década de aumento da aceitação das duas reformas. "As tendências de opinião sobre o assunto são claramente de recuo", observou o jornal. Vingt-Trois não fez claramente um chamado por protestos de rua contra a lei, que deve ser debatida no Parlamento no primeiro semestre do ano que vem, mas sua referência a "meios democráticos de expressão" pode ser interpretada como uma aprovação tácita a manifestações. Grupos católicos organizaram protestos em 75 cidades da França no mês passado e planejam mais em meados de novembro. A Igreja poderia promover manifestações maiores, mas teme adotar um papel muito proeminente em um debate político emotivo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.