Andrei Netto, de O Estado de S. Paulo
LONDRES- Um dia após dizer não à hipótese de participar de um governo de coalizão formado pelo Partido Trabalhista (Labour) e Liberal-Democrata (Lib-Dem), o candidato centrista à eleição no Reino Unido, Nick Clegg, virou alvo das críticas de todos os opositores.
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Líderes políticos advertiram para o risco de divisão do Parlamento em três forças, o que impediria a formação de um governo forte para gerenciar a crise econômica pela qual o país atravessa. A artilharia, entretanto, não mexe nos números, que seguem indicando uma diferença média de 5% entre o primeiro e o terceiro colocados.
As declarações de Clegg sobre a hipótese de coalizão com os trabalhistas foram feitas à rede de TV BBC no último domingo. O centrista disse considerar "absurda" a ideia de que um partido acabe em terceiro na contagem geral dos votos, mas nomeie o primeiro-ministro.
"Um partido que fica em terceiro (...) perde a eleição de forma espetacular e não pode reivindicar o cargo de primeiro-ministro", afirmou. Com a resposta, Clegg visava a descartar os rumores crescentes de que seu partido pudesse formar uma aliança com os trabalhistas para evitar a posse dos conservadores, seus rivais históricos.
A reação dos opositores foi imediata. Ontem, em Londres, Douglas Alexander, coordenador de campanha do primeiro-ministro Gordon Brown, afirmou que Clegg "esqueceu que o povo é o chefe" e que o candidato pode estar "intoxicado pela publicidade" que obteve ao subir nas pesquisas.
"O fato é que ele está demonstrando clara e consistente hostilidade em relação aos Trabalhistas nos últimos dias", argumentou Alexander. Com o mesmo objetivo, o ministro dos Negócios do governo Brown, Peter Mandelson, advertiu o eleitorado de que "aqueles que flertarem com Clegg acabarão casados com Cameron", invertendo o slogan usado pelos conservadores.
Também pressionado pela ascensão de Clegg, que pulverizou a polarização entre esquerda e direita, o líder do Partido Conservador (Tory), David Cameron, advertiu que o Parlamento sem maioria clara resultará em um governo fraco.
"Se tivermos um Parlamento permanentemente em suspenso, ou uma coalizão permanente, não teremos um governo forte, com autoridade e poder de decisão", reclamou, atacando o liberal-democrata. "Agora está ficando claro que ele quer manter todo o país como refém, apenas para obter aquilo que beneficiaria o Partido Liberal-Democrata."
Enquanto os discursos políticos primam pelos ataques mútuos, a opinião pública parece começar a sedimentar suas escolhas. Sondagem publicada neste domingo, 25, pelo instituto ICM a pedido do jornal The Guardian indicou a liderança de Cameron, com 33%, seguido de Clegg, com 30%, e de Brown apenas em terceiro, com 28%. Em relação à semana precedente, o quadro se manteve idêntico.
Nas demais pesquisas, a vantagem dos conservadores para os trabalhistas oscila, em geral, entre 6% e 4%. "A eleição vai ser decidida nas últimas 48 horas", reconheceu o atual ministro das Relações Exteriores, o trabalhista David Miliband.
Baseadas na pesquisa ICM-The Guardian, o instituto UK Polling Report projetou no domingo um Parlamento de maioria Trabalhista, mas insuficiente para obter a maioria absoluta de Westminster - a única hipótese que garantiria, sem a necessidade de negociações, a recondução de Brown ao poder.
Graças ao voto distrital, o cenário se inverte em relação ao número absoluto de votos. Os Trabalhistas teriam a maior bancada, com 275 assentos, seguidos dos Conservadores, com 245 deputados, e dos Liberais-Democratas, com 99 vagas.
Duas hipóteses são mais prováveis, se a conjuntura se confirmar: a negociação de uma coalizão, ou a formação de um governo Trabalhista, fragilizado pela minoria no Parlamento. Nesse caso, a hipótese de convocação de um novo pleito ainda em 2010 não pode ser descartada.