Derrota na Irlanda mergulha a UE em incertezas

Analistas opinam que vitória do 'não' mostra as dificulades da UE em consolidar suas instituições

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Por Caio Quero
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A vitória do 'não' no referendo na Irlanda que buscava ratificar o Tratado de Lisboa - assinado em 13 de dezembro do ano passado na capital portuguesa - mergulhou a União Européia em uma nova crise. Pelo acordo, todos os 27 membros deveriam ratificar o tratado este ano para que ele entrasse em vigor a partir de 2009. A derrota na Irlanda nesta sexta-feira, 13, gerou incertezas em relação ao futuro do bloco.   Veja também: Ouça análise de Christian Lohbauer, da Universidade de São Paulo Em golpe contra a UE, Irlanda recusa tratado com 53% dos votos Entenda o referendo na Irlanda e o Tratado de Lisboa   "É claro que o Tratado de Lisboa não vai entrar em vigor em 1º de janeiro de 2009", declarou ao jornal The New York Times o primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, o líder político mais antigo em atividade na UE. "Foi uma escolha ruim para a Europa e para a Irlanda", completou.   O pessimismo em relação ao futuro do bloco também foi dividido pelo premiê irlandês, Brian Cowen, que pediu tempo para encontrar uma solução para os problemas criados pelo país ao grupo, afirmando que não há reparação rápida para a questão. "O resultado traz considerável incerteza e uma situação difícil".   Mesmo com o revés, outros líderes europeus, que devem se reunir para decidir os próximos passos da UE na próxima semana, disseram que seguem em busca da ratificação do tratado por outros membros. "O Tratado não está morto, acho que continua vivo e nós devemos tentar achar uma solução", declarou presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso. A posição foi dividida por Alemanha e França, que em declaração conjunta disseram que esperam "que os outros membros continuem o processo de ratificação".   Para Christian Lohbauer, membro do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional (Gacint) da Universidade de São Paulo (ouça análise), a vitória do 'não' na Irlanda não sepulta completamente o Tratado de Lisboa, mas mostra que é hora da UE rever as condições da institucionalização de suas união política. "Temos que entender a vitória do 'não' em um contexto maior, junto com a derrota da Constituição européia em referendos na França e na Holanda em 2005", explica. Para ele, há uma percepção generalizada de que as instituições sediadas em Bruxelas não são capazes de atender às demandas regionais e cada vez mais essas instituições estão distantes do povo em geral.   "O resultado é mais uma demonstração do esgotamento que vive a UE no que se refere à consolidação de suas instituições políticas", diz Lohbauer, que acha que a derrota é mais um complicador para que a Europa tenha um documento comum que incorpore todas as decisões presentes nos tratados anteriores.   Para Lohbauer, a possível solução para a questão será parecida com que foi feito pelo bloco quando a Dinamarca rejeitou o Tratado de Maastrich, em 1992." Criou-se então um anexo ao tratado que dava ao país um estado especial. Tenho impressão que vá se oferecer um texto específico para a Irlanda para que o processo continue a caminhar".   Já Eduardo Viola, professor titular do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, opina que a derrota na Irlanda tem uma escala menor do que as derrotas na França e na Holanda em 2005. " A França e a Holanda eram países fundadores da UE. Do ponto de vista simbólico e formal a derrota na Irlanda é um problema significativo, mas eles provavelmente vão procurar um caminho. A UE não vai permitir que isso comprometa seu funcionamento", diz.   Para ele, o que pode acontecer é que os outros 26 países acabem por ameaçar excluir a Irlanda do bloco. "O custo de ficar fora do bloco seria altíssimo para a Irlanda. Aí o 'sim', ganharia em um novo referendo.   (Com agências internacionais)

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