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Espanha suspende despejos de famílias em necessidades

Por SONYA DOWSETT
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A Espanha aprovou nesta quinta-feira medidas que ajudam famílias carentes ameaçadas de despejo, um crescente problema social num país à beira da recessão e que ganhou destaque na semana passada por causa do suicídio de uma mulher que iria perder sua casa. O governo disse que irá suspender os despejos durante dois anos para os mutuários inadimplentes em situação vulnerável, que inclui famílias com filhos pequenos, deficientes e desempregados crônicos. "Esta é uma resposta emergencial para mitigar os efeitos do pior da crise econômica", disse a vice-primeira-ministra Soraya Saenz de Santamaría numa entrevista coletiva semanal. A Associação Espanhola de Bancos, que na semana passada já sinalizara seu aval à medida, disse que seus filiados compreendem a necessidade de adotá-la, e observou que os custos recairão apenas sobre os bancos. Os bancos espanhóis, entre os quais muitos estão prestes a receber a primeira parcela de uma linha de crédito de 100 bilhões de euros (127 bilhões de dólares) de um pacote europeu de resgate, retomaram a posse de 400 mil imóveis desde 2008, embora nem todos sejam residenciais. A tendência está crescendo, com cerca de 50 mil despejos no primeiro semestre, contra 77 mil em todo o ano de 2011. Na sexta-feira passada, a morte de Amaia Egaña, de 53 anos, que se atirou do seu apartamento no quarto andar enquanto oficiais de Justiça subiam para despejá-la, no País Basco, ganhou destaque na imprensa e colocou a questão no topo da agenda política. Foi o segundo suicídio desse tipo em dois meses. A moratória nos despejos só valerá para famílias com renda inferior a 19.200 euros por ano. O governo receia criar a imagem de que a Espanha esteja relaxando as regras para os pagamentos de créditos imobiliários. O ministro da Economia, Luis de Guindos, disse que as medidas não afetarão o mercado hipotecário da Espanha. A lei hipotecária espanhola é uma das mais duras da Europa. Os proprietários continuam responsáveis pelo que devem, mesmo depois de devolver o imóvel ao banco, se o valor da casa não cobrir a dívida restante. Num país onde mais de 80 por cento das pessoas têm casa própria, as hipotecas residenciais classificadas como duvidosas no final de junho representavam 3 por cento do total, bem abaixo dos 27 por cento das incorporadores imobiliários, segundo dados do Banco da Espanha. Os bancos espanhóis detêm 426 bilhões de dólares em títulos dessa dívida, segundo a Associação Hipotecária Espanhola, e grande parte está estacionada no Banco Central Europeu como garantias creditícias.

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