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Ex-ativista islâmico Gul é eleito presidente da Turquia

Por HIDIR GOKTAS E PAUL DE BENDERN
Atualização:

Abdullah Gul, que era ministro das Relações Exteriores, assumiu a Presidência da Turquia na terça-feira. Ele é o primeiro ex-ativista islâmico a chegar ao posto na história moderna do país. Em contraste com as cerimônias de posse do passado, o principal partido a oposição, o Partido Republicano Popular, os comandantes das Forças Armadas e a elite laica mantiveram-se à distância. O chefe das Forças Armadas, general Yasar Buyukanit, disse na segunda-feira ver "centros do mal" tentando minar a república laica, em uma declaração que indicou que o Exército talvez não fique assistindo impassível se achar que a separação entre Estado e religião está ameaçada. Gul jurou manter o princípio do secularismo, que segundo ele também é garantia para a liberdade de religião. Gul foi eleito indiretamente pelo Parlamento na terça-feira. "Enquanto estiver no cargo, vou abraçar todos os nossos cidadãos sem fazer diferença", disse Gul em seu discurso de posse. Gul foi ministro das Relações Exteriores quando preparou a proposta turca para a entrada na União Européia. Ele disse que o país precisa trabalhar duramente com o objetivo de se juntar à UE. "É imperativo para nosso país que nós realizemos as reformas política e econômica para caminharmos em direção a sermos membros da UE", disse. O presidente da Comissão Européia, Jose Manuel Barroso, disse que a eleição de Gul pode dar novo impulso ao processo de entrada da Turquia no bloco. "Isso fornece uma oportunidade para dar um impulso novo, imediato e positivo para o processo de acesso na UE em diversas áreas importantes", disse Barroso, em comunicado. Algumas centenas de secularistas fizeram um protesto contra a vitória de Gul. Ele se estabeleceu como um diplomata respeitado desde a eleição do partido AK, em 2002, garantindo o início das negociações para a entrada da Turquia na UE. Mas os militares temem que Gul e o AK tenham uma agenda islamita. Gul foi eleito depois de a elite laica ter tentado bloquear a votação. A tentativa acabou resultando numa eleição parlamentar, que foi vencida pelo Partido AK em julho. Muitos observadores acham que Gul, que rompeu com um partido islamita em 1999, vai tentar evitar confrontos. O primeiro-ministro, Tayyip Erdogan, afirmou que pretende submeter seu novo gabinete reformista ao novo presidente na quarta-feira. A elite laica e os generais turcos estavam alarmados com a possibilidade de a mulher de Gul usar o véu islâmico no palácio presidencial. O véu é um símbolo poderoso de influência religiosa, que foi banida por Mustafa Kemal Ataturk na fundação da República turca moderna, a partir das ruínas do Império Otomano. Uma pesquisa do jornal Milliyet mostrou que 72,6 por cento dos participantes consideraram "normal" para a mulher do presidente usar o véu, e 19,8 por cento disseram se sentir incomodados. Embora o primeiro-ministro tenha a maior parte do poder, o presidente tem poder de veto sobre leis e nomeia funcionários e juízes. O cargo também tem grande força moral, por ter tido Ataturk como seu primeiro ocupante. Desde 1960, os militares já derrubaram quatro governos, mas poucos apostam que isso se repita, já que declarações feitas neste ano pelos quartéis acabaram aparentemente levando a mais votos para o AK.

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