Festa espanhola une tourada e atmosfera carnavalesca

PAMPLONA, ESPANHA - A famosa festa anual de San Fermín, na Espanha, tem certamente a tourada como seu epicentro, mas a atmosfera carnavalesca também atrai fãs heterodoxos, que vão atrás das roupas típicas, da música e das guerras de comida.

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Por Martin Roberts
Atualização:

 

A festa encantou o escritor Ernest Hemingway, que esteve lá pela primeira vez em 1923, e o inspirou a escrever "O Sol Também se Levanta", livro que divulgou o nome do escritor e de Pamplona, e que desde então ajuda a levar turistas para a cidade anualmente.

 

Touros correm pelas ruas de Pamplona nesta quinta-feira; corrida encerra o San Fermín

 

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'Dois adversários'

 

A tradicional corrida dos touros pelas ruas começou na manhã de quinta-feira, 7, sem nenhuma das tão comuns chifradas. O evento tem duração de uma semana. À tarde, várias "peñas" (espécie de torcidas organizadas) lotavam o lado ensolarado (o mais barato) da arena de touros. Muitos deles iriam passar grande parte do tempo de costas para os três toureiros que desafiaram seis touros durante a tarde. Eles também enchem a arena com uma música ensurdecedora, a ponto de muitos toureiros conceituados evitarem ir a Pamplona. Os espectadores dos lugares à sombra, que são mais caros, também reclamam. "Aqui o toureiro tem dois adversários, o touro e a algazarra", disse Antonio de Miguel. Mas seu quase vizinho Angel de la Cruz discorda. "Um bom toureiro não se distrai, e (a plateia) cala a boca se a tourada é bem feita". disse. Ele viaja todo ano de San Sebastian para o San Fermín. "Sem tudo isto, não seria Pamplona".

 

Novos tempos

 

Como manda a tradição, os touros usados nessa tourada foram soltos pelas ruas de manhã, correndo atrás de aficionados com trajes brancos. A Cruz Vermelha registrou apenas ferimentos leves, sem chifradas - como as que já mataram pelo menos 15 pessoas desde a construção da atual arena, em 1922.

 

Uma das personalidades na multidão de 20 mil participantes era o fotógrafo Francisco Cano, o "Canito", que tirou fotos do legendário toureiro "Manolete" quando ele foi morto por um touro em 1947. "Manolete" era uma celebridade naquela época. Hoje, em termos de popularidade, a maioria dos toureiros não chega nem perto de ídolos como os jogadores Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, ou de atores como Penélope Cruz e Javier Bardem.

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'Excluídos'

 

Em maio, os toureiros José María Manzanares, Miguel Angel Perera e Julian "El Juli" Escobar disseram ao jornal El País que sentiam falta de aparecer mais na televisão. "Nós nos sentimos excluídos em comparação às outras artes", disseram. As touradas também enfrentam uma crescente resistência na opinião pública. Elas foram proibidas há mais de 20 anos nas ilhas Canárias, e a partir de 2012 o mesmo valerá para a Catalunha, onde o número de espectadores já vinha caindo constantemente nos últimos anos. As pesquisas mostram, no entanto, que os espanhóis - especialmente os jovens - são cada vez mais indiferentes ao assunto, embora muitos em princípio sejam contra qualquer tipo de restrição governamental - o que inclui não só a tauromaquia, mas também o consumo de tabaco nos bares e os limites de velocidade nas estradas. (Reportagem de Martin Roberts)

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