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Foto de Rajoy com charuto em NY contrasta com dificuldades dos espanhóis

Por JULIEN TOYER
Atualização:

Fotos do primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, apreciando um charuto na Sexta Avenida em Nova York foram publicadas em diversos jornais espanhóis nesta quinta-feira, no momento em que seu governo se prepara para revelar medidas de austeridade sem precedentes. O gosto visível do líder conservador pelas coisas boas da vida contrastou com os pedidos dele aos espanhóis para que aceitem sacrifícios ainda mais dolorosos para restaurar as finanças públicas. Alguns espanhóis disseram no Twitter que a foto de Rajoy do lado de fora do Radio City Music Hall os lembrou de Maria Antonieta, a rainha decapitada durante a revolução francesa depois de dizer que as pessoas deveriam comer bolo, se não tinham pão. Uma porta-voz de Rajoy disse que o primeiro-ministro estava com uma agenda particularmente apertada em Nova York --reunindo-se com outros líderes, discursando na Organização das Nações Unidas e dando entrevistas para a mídia-- e a curta caminhada foi seu único momento para respirar. Mas a imagem dele fumando o charuto lembrou outro incidente que levantou dúvidas sobre a sensibilidade de Rajoy com a opinião pública. No dia seguinte que a Espanha obteve um empréstimo de 100 bilhões de euros (128 bilhões de dólares) para salvar seus bancos em junho, ele gastou alguns minutos para anunciar em entrevista coletiva que tinha salvado o país, e em seguida voou para a Polônia com seu filho para assistir à seleção nacional de futebol. Muitos jornais mostraram na primeira página fotos de Rajoy comemorando o primeiro gol ao lado da notícia do resgate ao sistema bancário. Agora, enquanto o país se prepara para outro pacote de resgate similar, desta vez para o Estado, e com um em cada quatro espanhóis desempregado, seu estilo de vida de charuto em punho parece abalar ainda mais o sentimento nacional de raiva e pessimismo. Muitos políticos europeus, analistas de mercado e até mesmo autoridades do governo espanhol afirmam que a má comunicação tem feito tanto para manter a Espanha na linha de fogo da crise de dívida da zona do euro quanto os problemas econômicos inerentes do país. Enquanto estava em Nova York, o primeiro-ministro insistiu a uma audiência de empresários que eles não prestassem atenção às imagens da polícia de choque confrontando manifestantes anti-austeridade fora do Parlamento em Madri, mas se concentrassem na "maioria silenciosa" de não-manifestantes. Sua atitude isolada contrasta com a maneira com que a classe média da Espanha está sendo arrastada para a pobreza por uma crise que começou em 2007, quando a bolha imobiliária de uma década estourou. Perto de seis milhões de pessoas estão agora desempregadas e centenas de milhares tiveram suas casas tomadas. A revista semanal Interviu informou esta semana que o jantar servido a bordo do voo de Rajoy, pago pelo governo, para voltar da viagem para ver a seleção de futebol em junho custou 1.000 euros. Nove pessoas, incluindo Rajoy, estavam a bordo do avião militar espanhol Falcon 900, que sempre traz uma embalagem extra de uísque Cardhiu quando o primeiro-ministro viaja.

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