Milhões de pessoas continuam enfrentando nesta sexta, o terceiro dia consecutivo de greve no transporte público, apesar do enfraquecimento do protesto na França e das atividades das indústrias alemãs serem amplamente prejudicadas. Veja também: Entenda a disputa entre sindicatos e o governo Centrais sindicais francesas decidiram na quinta-feira, 15, manter por tempo indeterminado a greve que paralisa desde quarta-feira os setores de transportes e de geração de energia do país, uma decisão que exasperou o governo e jogou a população contra os trabalhadores. Em meio a mais um dia de estações de metrô lotadas, trânsito caótico e atividade econômica reduzida, os franceses já se mostram impacientes com os grevistas e sua luta contra a extinção do regime especial de aposentadorias, que garante a 500 mil funcionários públicos 2,5 anos a menos de trabalho que o restante da população. Pressionados pela opinião pública, os maiores sindicatos da França já não escondem o racha no movimento. A greve contra a reforma dos regimes especiais de previdência mais uma vez afeta principalmente as companhias SNCF, de ferrovias, e RATP, do transporte metropolitano de Paris. Mas o número de grevistas é menor que o dos dias anteriores, de acordo com os primeiros relatórios da diretoria das duas empresas. A SNCF só programou 250 trens de alta velocidade, dos 700 de um dia normal, além de 20% dos trens de longo percurso e um terço dos regionais. Segundo a RATP, nesta manhã circulavam em torno de 20% dos trens de metrô. Porém, algumas linhas ficaram completamente paradas nas primeiras horas de serviço. Cerca de 30% dos ônibus da região e dos trens locais estão circulando, mas a situação é variável muito de uma linha para outra. Como nos dias anteriores, a conseqüência é um tráfego muito mais intenso na capital francesa e em toda a sua região, com 240 quilômetros de congestionamentos às 7h30 (4h30 de Brasília). As centrais pretendem forçar o governo a negociar com empresas, conforme um consenso aparentemente atingido na quarta-feira. Nesta sexta, o diretor da Confederação Geral do Trabalho (CGT) na SNCF, Didier Le Reste, justificou a reivindicação, dizendo que "é preciso dar mais visibilidade" aos temas em discussão, além de garantias que de que alguns pontos entrarão na agenda. Em entrevista à emissora France Info, Le Reste negou que as bases tenham abandonado o movimento na quinta. A estratégia das direções dos sindicatos mudou conforme as assembléias de grevistas se pronunciavam a favor de manter a greve, afirmou. O ministro do Trabalho, Xavier Bertrand, tinha exigido o fim do protesto para abrir negociações. A greve é um protesto contra a reforma dos regimes especiais de previdência, que beneficia cerca de 500 mil trabalhadores na SNCF, na RATP, nas empresas públicas de energia (EDF e GDF) e nos cartórios. O governo quer aumentar o período de contribuição para a aposentadoria, dos atuais 37,5 anos para 40. Alemanha parada A greve dos maquinistas alemães, a mais grave na história das ferrovias do país, piorou a situação do transporte de mercadorias, e continua afetando milhões de passageiros em todo o país, também no terceiro dia de mobilizações. Um porta-voz da empresa Deutsche Bahn reconheceu nesta manhã que a situação é "dramática" em algumas áreas. No leste do país só circulam comboios de mercadorias de importância vital. Ele reconheceu ainda que desde o início da greve, 5.700 maquinistas paralisaram seu trabalho. A paralisação em massa do transporte de mercadorias começa a afetar várias indústrias alemãs, sobretudo no importante setor do automóvel. Algumas fábricas, como a da Audi na Bélgica, tiveram que suspender a produção até segunda-feira por falta de peças. A direção da Deutsche Bahn e o sindicato mantêm suas posturas. Mas os trabalhadores parecem dispostos a ceder em sua exigência de contar com um convênio independente do resto dos empregados, disse na noite de quinta o presidente do GDL, Manfred Schell. A greve deverá terminar às 2h deste sábado (23h de sexta-feira, em Brasília). Mas o sindicato alerta que, se nas próximas horas não houver uma oferta negociável, na próxima semana pode começar uma greve por tempo indefinido. (com Andrei Netto, do Estadão)