Governo britânico e Igreja acobertaram atentado, diz relatório

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Por IAN GRAHAM
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O governo britânico e a Igreja Católica se mancomunaram para proteger um padre suspeito de envolvimento num atentado a bomba que matou nove pessoas em 1972 na Irlanda do Norte, disse um relatório oficial na terça-feira. O relatório do ombudsman da polícia revelou que um cardeal irlandês se envolveu na transferência do padre James Chesney para fora da província britânica da Irlanda do Norte, salientando o papel da hierarquia católica na proteção de padres contra acusações criminais. O inquérito mostra que o então secretário de Estado para a Irlanda do Norte, William Whitelaw, teve na época uma conversa com o cardeal William Conway, que chefiava a Igreja na Irlanda, para discutir a possibilidade de transferir Chesney. "Na ausência de explicação, as ações dos oficiais graduados da RUC (polícia local), ao buscarem e aceitarem a assistência do governo para lidar com o problema do suposto mau procedimento do padre Chesney, foi por definição um ato conspiratório", disse o ombudsman policial Al Hutchinson em nota. "A decisão traiu os que foram assassinados, feridos ou mutilados pela bomba." Ninguém jamais foi indiciado ou condenado pela explosão dos três carros bombas na localidade de Claudy, mas a guerrilha republicana e católica IRA foi apontada como responsável. Entre os mortos havia dois adolescentes e uma menina de nove anos. Chesney, que era padre numa paróquia vizinha, sempre negou qualquer envolvimento, embora um cão farejador tenha encontrado traços de explosivos em seu carro quando ele foi parado em uma barreira policial em setembro de 1972. Ele foi transferido para Donegal, na República da Irlanda, em 1973, e lá morreu em 1980. O relatório do ombudsman aponta que, logo depois do atentado, a polícia já tinha informações de que Chesney era o chefe do IRA na zona sul da localidade de Derry, num dos períodos mais sangrentos das três décadas de violência sectária na Irlanda do Norte. O IRA abandonou em 1998 a luta armada contra o domínio britânico na Irlanda do Norte. Um chefe de polícia na época do atentado escreveu que, em vez de prender Chesney, "nossos chefes podem achar possível levar o tema a alguma conversa que possam ter com o cardeal ou os bispos no futuro". Documentos do governo mostraram que, num encontro reservado com Whitelaw, Conway "disse que sabia que o padre era um homem muito mau e veria o que poderia ser feito". "O cardeal mencionou a possibilidade de transferi-lo para Donegal", segundo o relatório. Em seu diário, o cardeal registrou ter tido "um 'tête-à-tête' muito perturbador."

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