Grã-Bretanha estuda dura resposta ao Irã, diz Cameron

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Por ROBIN POMEROY E MITRA AMIRI
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A Grã-Bretanha começou a retirar os seus funcionários diplomáticos do Irã e alertou o governo iraniano sobre as "sérias consequências", um dia depois que manifestantes invadiram e saquearam a embaixada britânica e um complexo residencial. A Grã-Bretanha está considerando tomar "medidas muito severas", disse o primeiro-ministro David Cameron nesta quarta-feira. Ele afirmou que sua principal preocupação era garantir a segurança dos funcionários da embaixada britânica. "Depois disso, vamos considerar tomar medidas muito severas em resposta a esse comportamento completamente inaceitável e vergonhoso por parte dos iranianos", disse ele ao Parlamento. Os dois complexos da embaixada foram invadidos na terça-feira durante uma manifestação de rua, em frente ao prédio principal da representação diplomática, no centro de Teerã. Os manifestantes estilhaçaram vidros, incendiaram um carro e queimaram uma bandeira britânica em protesto contra as novas sanções impostas por Londres. Os ataques foram cometidos por estudantes e milícias Basij por vingança pelas novas sanções britânicas e ocidentais contra o Irã por causa de seu programa nuclear. Eles também refletiram as crescentes divisões dentro da elite governante do Irã sobre como lidar com a pressão internacional cada vez maior, uma vez que as sanções prejudicam a economia já estagnada. O protesto, que evocou lembranças da tomada em 1979 da embaixada dos EUA, pareceu ser uma ação dos conservadores que dominam o Parlamento e rivalizam com o presidente Mahmoud Ahmadinejad, com o intuito de força-lo a atender à demanda deles de expulsar o embaixador britânico. Em sua disputa com o Ocidente, Ahmadinejad e seus ministros não têm mostrado disposição para voltar atrás em sua recusa de interromper o programa nuclear iraniano, mas têm procurado manter o diálogo aberto para limitar o tipo de sanção imposto ao país. Países ocidentais acreditam que o programa visa construir uma arma nuclear, o que Teerã nega. "Foi planejado e organizado por estudantes, mas não foi algo que saiu do governo", disse Mohammad Marandi, professor associado da Universidade de Teerã. "Os estudantes estavam me dizendo havia dias que planejavam estar lá em grande número. Eles disseram que alguns estudantes tentariam (invadir a embaixada)", contou ele. "Não acho que o governo esteja contente com o que aconteceu." Os jornais conservadores alardearam a tomada da embaixada. O diário Vatan-e Emrouz declarou "Antro da raposa é capturado" - referindo ao apelido da Grã-Bretanha ("a velha raposa"), o qual reflete a visão predominante no Irã de que a antiga potência imperial ainda detém grande poder nos bastidores do país e em questões internacionais. Embora os policiais iranianos inicialmente não tenham bloqueado os manifestantes que pularam os portões da embaixada, eles acabaram jogando gás lacrimogêneo para dispersá-los e libertar os seis britânicos detidos pelos manifestantes. O Ministério de Relações Exteriores do Irã demonstrou seu desapontamento com "o comportamento inaceitável de alguns manifestantes". "A posição do Ministério de Relações Exteriores sobre a ação dos estudantes universitários nos surpreendeu, porque a nossa expectativa do Ministério de Relações Exteriores é de não sacrificar a base e os objetivos da nação por relações diplomáticas e políticas", disse um comunicado de um grupo que se autodenomina comunidade islâmica de sete universidades de Teerã. "Enquanto os estudantes que protestavam estavam procurando responder às conspirações e malevolência desta velha raposa em apoio à decisão do parlamento revolucionário de expulsar o embaixador do governo britânico, nós testemunhamos o duro golpe da polícia contra esses alunos", afirmou a declaração em um site de TV estatal. "Esperávamos que a polícia estivesse do lado dos estudantes, em vez de confrontá-los." Na semana passada, a Grã-Bretanha proibiu todas as suas instituições financeiras de quaisquer negociações com o Irã, incluindo o seu banco central, depois de um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica sugerir que o Irã pode ter trabalhado no desenvolvimento de um arsenal nuclear. O Irã, quinto maior exportador de petróleo do mundo, nega a acusação e diz que só quer gerar eletricidade. Os Estados Unidos e o Canadá também reforçaram as suas sanções contra o Irã na semana passada, e a França está pressionando por mais. "A França está defendendo sanções numa escala que iria paralisar o regime: o congelamento de ativos do banco central e um embargo às exportações de hidrocarbonetos", disse o chanceler francês Alain Juppé em uma entrevista a uma revista semanal de notícias.

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