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Isolado no G20, Putin mostra que vai agir da própria maneira na Ucrânia

No Ocidente pode ter parecido que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, deixou mais cedo a reunião do G20 no fim de semana com o rabo entre as pernas, depois de ter sido repreendido por causa da Ucrânia. No entanto, a história é diferente na Rússia, onde uma mídia dócil elogiou Putin por ter sido corajoso o suficiente para “entrar no território dos leões”, enfrentar os críticos e defender o interesse nacional. A imprensa russa aceitou a desculpa do presidente de que ele tinha uma longa viagem de volta para casa. A TV estatal afirmou que o G20 foi melhor para Putin do que a mídia ocidental previa, e que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi o líder que ficou isolado em duas reuniões internacionais em uma semana. O jornalista Dmitry Kiselyov disse que a visão de mundo “unipolar” dos Estados Unidos estava claramente morta e indagou se o objetivo de Obama não seria destruir a Rússia. "Putin se comportou com sangue frio: ele não agiu como analistas histéricos de todas as tendências haviam indicado, elogiou os organizadores do G20 e chamou o fórum de construtivo”, escreveu o Izvestia, jornal pró-Putin. Se Obama ou Putin se sairam melhor um que o outro na reunião do G20 em Brisbane, na Austrália, e no encontro Ásia-Pacífico na semana anterior na China, uma coisa parece clara: quem pensou que o líder russo iria hesitar em relação a Ucrânia estava errado. Não há sinais de mudança de rumo, e a decisão da União Europeia nesta segunda-feira de não endurecer as sanções contra a Rússia deve ser provavelmente encarada em Moscou como uma vitória de Putin. O analista político Georgy Satarov, antigo assessor do ex-presidente Boris Yeltsin, disse que Putin havia de forma deliberada esnobado o Ocidente ao deixar o G20 mais cedo. "Acho que o sinal é que Putin planeja agir em relação à Ucrânia da forma que ele acha necessária, e não como os líderes do G20 esperam”, afirmou.

Por TIMOTHY HERITAGE
Atualização:

UCRÂNIA: PRÓXIMOS PASSOS 

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Putin tem buscado manter o mundo em dúvida sobre cada um dos seus atos na crise ucraniana, mas um dos seus objetivos parece ser há tempos evitar que a Ucrânia se distancie ainda mais da órbita de Moscou e se aproxime das forças europeias.

Sanções ocidentais por conta da anexação da Crimeia, que agravaram as dificuldades econômicas russas, não foram suficientes para afetar o apoio a Putin na Rússia.

Ele tem rejeitado acusações de Kiev e do Ocidente de que mandou tanques e tropas para o leste da Ucrânia em apoio aos rebeldes separatistas.

Em Brisbane, Putin descreveu a sua versão dos eventos como “realidade”, comparada com a “vida virtual” narrada pela mídia e líderes ocidentais.

Com uma trégua que parece mais frágil do que nunca, uma volta ao conflito total é possível no leste da Ucrânia.

Os comentários de Putin, no entanto, sugerem que ele pode tender pela manutenção do "status quo" nas regiões do leste controladas por separatistas.

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Isso significaria um conflito sem resolução, “congelado”, o que tornaria o leste ingovernável para Kiev e impediria o movimento dos líderes da Ucrânia em direção à Europa.

Numa entrevista publicada no domingo, Putin disse que a Ucrânia é uma entidade única e apoiou a federalização, em vez da adesão da regiões ucranianas que falam russo à Rússia.

"A Ucrânia é um Estado independente, livre e soberano”, disse ele. “Vou dizer uma coisa que algumas pessoas no país podem não gostar. Vamos tentar conseguir um espaço político único nesses territórios.”

O próximo passo na crise pode ser a renegociação do cessar-fogo. Putin disse que há problemas com a implementação do acordo e pediu o diálogo. Os rebeldes foram mais longe e afirmaram que o acordo deve ser retrabalhado.

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