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Itália faz funeral de Estado para vítimas do terremoto

Por SILVIA ALOISI E ANTONELLA CINELLI
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A Itália promoveu na sexta-feira um funeral de Estado para as vítimas de seu pior terremoto em três décadas, enquanto o número de mortos chegava a 289. Os sobreviventes expressavam revolta pelo fato de as casas terem simplesmente desabado. Milhares de pessoas se reuniram diante de 205 féretros, muitos cobertos de flores e fotos dos mortos, dispostos em fileiras no pátio de desfiles de uma academia de polícia na cidade montanhesa de L'Aquila, a mais duramente atingida pelo terremoto de 6,3 graus da segunda-feira. Pequenos caixões brancos com os corpos de crianças foram colocados sobre os caixões de seus pais, alguns com um de seus brinquedos favoritos sobre o caixão. A vítima mais jovem era um menino de cinco meses de idade que morreu com sua mãe. "O clima hoje é de muita tristeza, mas também de muita revolta", disse Piero Faro, que veio prestar condolências à amiga da família Paola Pugliesi, 65, que morreu com seu filho Giuseppe, 45. "O prédio em que eles viviam simplesmente se desintegrou. Isso não deveria ter acontecido." Alguns dos presentes beijaram os caixões e foram confortados pelo primeiro-ministro Silvio Berlusconi, antes de uma missa católica oficiada pelo segundo mais alto clérigo do Vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone. Em mensagem lida para os presentes, o papa Bento disse: "Eu me sinto espiritualmente presente entre vocês e compartilho sua dor." Bandeiras foram hasteadas a meio-pau num dia de luto nacional, as lojas fecharam suas portas, os aeroportos suspenderam as decolagens para um minuto de silêncio, e os policiais do trânsito tiraram seus coletes coloridos. RECOMEÇAR A VIDA Cinco dias após o terremoto, os serviços de resgate continuam a vasculhar os escombros. Nas últimas horas foram encontrados os corpos de uma mulher de 53 anos e sua filha adolescente nos escombros de sua casa. Mas a agência de Proteção Civil informou que as buscas estão quase encerradas. Bombeiros acompanharam algumas pessoas a suas casas para recuperar objetos pessoais, enquanto policiais montavam guarda para prevenir saques. Fortes abalos posteriores, alguns sentidos até na vizinha Roma, continuaram a sacudir a região de Abruzzo, apavorando as 17 mil pessoas que estão vivendo em barracas. Milhares de outras estão hospedadas em hotéis. "Agradecemos à população de Abruzzo por sua seriedade, civilidade, dignidade e compostura", disse Berlusconi. "Hoje homenageamos seus mortos, que são nossos." "Por baixo dos escombros sente-se o desejo de recomeçar, reconstruir e voltar a sonhar", disse o cardeal Bertone, expressando a esperança de renascimento que os cristãos celebram no domingo de Páscoa. Mas alguns sobreviventes não encontraram grande conforto na religião. "Agora os profissionais da oração estão celebrando missas", disse Francesco Pagani, um sobrevivente idoso em um dos acampamentos de emergência. "Todo o mundo reza --papas, bispos, arcebispos, excelências, eminências, São Pedro e São Paulo, mas Jesus Cristo nos enviou um terremoto." As atenções agora se voltam à reconstrução de uma região que vive do turismo, da agricultura e de empresas familiares. Mais de metade das empresas de Abruzzo está fora de ação. De acordo com uma estimativa, os prejuízos chegam a 3 bilhões de euros (4 bilhões de dólares), mas o impacto sobre a economia italiana, que movimenta quase 2 trilhões de euros e já se encontra atolada na recessão, deve ser limitado. O governo anunciou uma investigação sobre a tragédia, depois de o presidente Giorgio Napolitano ter dito que a construção precária pode explicar o desabamento de construções modernas, incluindo um hospital e um albergue estudantil, que deveriam ter sido à prova de terremotos. "As pessoas precisam fazer um exame de consciência", disse o presidente.

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