02 de dezembro de 2009 | 09h51
A Audiência Provincial de Munique decidiu suspender temporariamente o julgamento contra o suposto criminoso nazista John Demjanjuk, acusado pela morte de 27,9 mil judeus no campo de extermínio de Sobibor, por conta do estado de saúde o réu. O julgamento do ucraniano de 89 anos pode ser o último dos grandes processos de crimes de guerra envolvendo supostos nazistas.
O presidente do tribunal, o juiz Ralph Alt, disse nesta manhã que Demjanjuk está com uma infecção. "Queixa-se de dores de cabeça e nas articulações", explicou o juiz, que informou que um médico penitenciário atestou que o acusado não pode ser levado à sala do julgamento e deve repousar. Por esse motivo, o julgamento que iniciou na segunda-feira diante de uma grande expectativa, será suspenso.
O processo contra Demjanjuk é previsivelmente o último grande julgamento pelo crime de nazismo e do Holocausto, por causa da idade avançada dos sobreviventes e dos carrascos. É a primeira vez que a justiça alemã processa um executor estrangeiro, um ex-soldado soviético, capturado pela SS e transformado em partícipe do aparelho nazista como "Trawniki" - guarda voluntário - do campo de extermínio de Sobibor (Polônia ocupada).
Apesar de ter reconhecido que esteve em outros campos de concentração durante a 2ª Guerra, Demjanjuk nega que tenha participado de atividades em Sobibor, onde promotores afirmam que pelo menos 250 mil judeus foram mortos. A família do réu afirma que ele está muito fraco e doente para participar do julgamento, mas médicos que o examinaram dizem que ele está lúcido e tem condições de comparecer às sessões do processo.
Em maio, Demjanjuk foi extraditado pelos EUA, onde vivia desde 1952. Não foi a primeira vez que ele foi extraditado. Em 1986, o ucraniano foi enviado para Israel e condenado à morte, em primeira instância, por ser o guarda conhecido como "Ivan, o Terrível", do campo de concentração de Treblinka, onde mais de 870 mil pessoas foram mortas. No entanto, a Suprema Corte israelense anulou a condenação, em 1993, ao concluir que "Ivan" não era ele, mas outro ucraniano.
Duas décadas depois da primeira condenação, a promotora alemã Barbara Stockinger fundamenta suas acusações em uma carteira de identificação da SS, com o número 1393, segundo o qual Demjanjuk serviu em Sobibor como Trawniki. As 27,9 mil mortes de que ele é acusado correspondem aos presos judeus mortos na câmara de gás em Sobibor, nos seis meses em que exerceu a função de guarda voluntário no campo, o que está documentado com nome e sobrenome por dois investigadores do escritório central para o esclarecimento dos crimes do nacional-socialismo, de Ludwigsburg.
O advogado de Demjanjuk, Ulrich Busch, acusou a corte e os promotores de tratarem o réu com mais dureza do que os alemães que comandavam o campo na Polônia. "Como vocês podem dizer que aqueles que deram as ordens eram inocentes e os que receberam as ordens são culpados? É uma questão de dois pesos e duas medidas", disse.
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