
26 de setembro de 2011 | 16h08
Investidores ocidentais veem Kudrin como um garantidor da estabilidade financeira e disseram que sua saída seria um duro golpe para a economia russa e atrasaria as perspectivas de reformas.
"Eu me demiti. Minha demissão foi aceita", disse Kudrin à Reuters.
Kudrin estava praticamente sem opção. De forma surpreendente, Medveded o humilhou ao cobrar que ele deixasse o cargo em uma reunião com autoridades locais, após o veterano ministro ter dito que não trabalharia sob comando direto de Medveded caso houvesse uma troca de cargos e o atual presidente virasse primeiro-ministro, cargo ocupado atualmente por Putin.
"Tais declarações parecem impróprias... e não podem de maneira alguma ser justificadas. Ninguém revogou a disciplina e a subordinação", disse Medvedev em declarações incomumente amargas em uma reunião com autoridades, inclusive Kudrin, na cidade de Dimitrovgrad.
"Se você, Alexei Leonidovich, discorda do curso do presidente, há somente um curso de ação e você o conhece: demita-se... Naturalmente, é necessário responder aqui e agora: você escreverá uma carta de demissão?"
Kudrin pareceu atordoado.
"Sim, é de fato verdade que eu discorde de você. Tomarei uma decisão sobre a sua proposta depois de consultar o primeiro-ministro (Putin)", respondeu Kudrin.
Como presidente, Medvedev não pode demitir Kudrin.
O anúncio de Putin no sábado de que planejava voltar ao Kremlin no próximo ano, depois de quase quatro anos como primeiro-ministro, tinha a intenção de acabar com a incerteza política que vem minando o desempenho econômico da Rússia.
Mas a discordância de Kudrin significou que a fachada de unidade estava rachada menos de 24 horas depois, e inquietou os investidores que o elogiam pelas políticas que ajudaram a Rússia na crise econômica de 2008.
Ainda não está claro o tamanho da rachadura na unidade e o dissenso que Putin enfrenta. A maior parte do governo e das autoridades do Kremlin manteve uma postura neutra na segunda-feira. Ninguém correu para ficar ao lado de Kudrin.
Kudrin, de 50 anos, é um aliado próximo de Putin desde que trabalharam juntos na administração da cidade de São Petersburgo nos anos 1990.
Em um sinal da confiança de Putin nele, ele estava no cargo há 11 anos, durante dois mandatos de Putin como presidente e seu atual como primeiro-ministro.
Putin e Medvedev governam o maior país do mundo e o maior produtor de energia em uma estratégia de divisão de poder desde que Putin teve que deixar a Presidência em 2008, depois de servir dois mandatos consecutivos. Agora Putin pode servir até 2024.
Embora as pesquisas de opinião mostrem que ambos são mais populares do que qualquer outro político russo, e que Putin deve ganhar outro mandato de seis anos em março, muitos russos mostram sinais de impaciência com a falta de progresso em democracia.
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