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Protestos italianos começam na escola

Atualização:

Ao amanhecer, antes que as aulas pudessem começar na semana passada, os alunos do ensino médio da Escola de Ciência Nomentano, em um subúrbio ao norte de Roma, passaram correntes ao redor dos portões e bloquearam as portas com cadeiras retiradas das salas de aula. Entre a bandeira esgarçada da União Europeia e a tricolor da Itália na entrada, eles penduraram uma nova faixa: um lençol branco no qual foi pintada a palavra "Ocupada". Com o desemprego juvenil mais de três vezes a média nacional e as políticas de austeridade do primeiro-ministro Mario Monti abocanhando os gastos educacionais, estudantes do ensino médio e universitário foram para a frente dos protestos antigoverno. Enquanto as greves varriam a Europa na quarta-feira, adolescentes armados com escudos improvisados pintados para parecerem capas de livros famosos lideraram uma marcha de milhares através de Roma. A manifestação terminou em confrontos violentos, com a tropa de choque da polícia perseguindo os manifestantes pelas margens do Tibre debaixo de nuvens de gás lacrimogêneo. Em um discurso nesta semana na Universidade Bocconi de Milão, onde foi professor de economia antes de se tornar primeiro-ministro, Monti expressou solidariedade, dizendo que os jovens estavam pagando por "graves erros acumulados nas últimas décadas". Nomentano é uma das mais de dez escolas ao redor de Roma que foram tomadas por estudantes em uma revolta contra cortes da crise econômica e as reformas impostas pelo governo tecnocrata de Monti. O estudante Nicholas Giordano, 18, apontou para os buracos na pavimentação da escola e para seu telhado quebrado."Há banheiros que não funcionam há meses. Quando chove, a água entra em algumas salas", disse. "Queremos mostrar ao governo que isso é inaceitável". Os estudantes estão acampados dentro da escola desde segunda-feira, e disseram que a ocupação iria durar toda a semana. Propostas que o sindicato CGIL diz que irão raspar US$ 232,81 milhões dos orçamentos anuais das escolas tornaram-se um ponto de convergência para grupos que se opõe a Monti de todo o espectro político, de neofascistas à estrema esquerda. GERAÇÃO PERDIDA Os jovens da Itália estão entre os que mais sofrem com uma economia que entra e sai da recessão desde 2008. A taxa de desemprego entre a juventude é de 35 por cento. A Itália repetidamente cortou gastos com educação nos últimos anos, e alocou apenas 4,9 por cento do PIB para a educação, segundo números mais recentes da OECD, de 2009. Dos 31 membros do grupo de países ricos para os quais existiam dados, apenas a República Tcheca, a Hungria e a Eslováquia gastavam menos com educação. Para os que conseguem encontrar trabalho depois de se formarem, um diploma universitário nem sempre leva a empregos qualificados: segundo o Banco da Itália, um em cada quatro formandos empregados eram "altamente qualificados" em 2011, trabalhando como garçons ou em outros empregos que não exigiam um diploma, um aumento de dois pontos percentuais desde 2009. (Reportagem de Naomi O'Leary)

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