O presidente da Rússia, Vladimir Putin, criticou na terça-feira os planos orçamentários do seu governo e fez uma rara repreensão pública a ministros, acusando-os de desobedecer ordens dadas depois do início do seu atual mandato, em maio. As declarações, durante reunião ministerial sobre a estratégia orçamentária, no balneário de Sochi (sudoeste), sugerem que a paciência de Putin com seu primeiro-minisrtro Dimitry Medvedev está se esgotando, apenas quatro meses depois da formação de um novo governo. Putin, de 59 anos, que domina a política russa desde 2000, disse que a proposta de política fiscal para os próximos três anos deixa de levar em conta compromissos previstos em decretos baixados por ele desde que reassumiu a Presidência. "Se tudo continuar como esboçado no plano, um ou outro ponto desses decretos não poderá ser implementado. Já vejo isso. Mas eles precisam ser implementados", disse Putin. Geralmente, o estilo de Putin se baseia na forte lealdade dos seus aliados e na continuidade do governo, num ambiente onde divergências raramente vêm a público. As declarações foram feitas na ausência de Medvedev, que havia viajado para uma audiência do "governo aberto", iniciativa amplamente acusada como uma vitrine populista com poucos resultados concretos. Putin se tornou o principal líder russo quando o então presidente Boris Yeltsin renunciou, no último dia de 1999, e entregou-lhe o poder. Em 2008, após cumprir o limite de dois mandatos presidenciais consecutivos, Putin indicou seu premiê Medvedev para sucedê-lo, e ele próprio passou os quatro anos seguintes como primeiro-ministro. Em 2012, trocaram de papel novamente, e desde então há crescentes especulações de que Medvedev poderia deixar o governo. "Se Putin realmente pretende substituir o primeiro-ministro e o governo por uma equipe mais forte no outono (no hemisfério Norte), -e não acho que haja outra escolha -, é claro que ele precisa que os cidadãos entendam por que está fazendo isso", disse o analista Nikolai Petrov, do Carnegie Centre, em Moscou. O plano orçamentário deve ser oficialmente discutido pelo gabinete na terça-feira, e, diante das críticas do presidente, é improvável que ele seja aprovado na sua forma atual. Putin telefonou para Medvedev para determinar que advirta dois ministros que não implementaram os decretos presidenciais. Mais tarde, um porta-voz do Kremlin disse que um terceiro ministro será também repreendido. Além de gerar incertezas sobre o futuro de Medvedev, a reunião também motivou dúvidas sobre o compromisso do Kremlin em equilibrar seu orçamento em médio prazo, após os intensos gastos públicos feitos antes da campanha presidencial de março. (Reportagem adicional de Nastassia Astrasheuskaya)