Reino Unido inicia investigação sobre a guerra do Iraque

Ex-premiê Tony Blair será uma das testemunhas dos trabalhos para apurar o papel britânico no conflito

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Por Redação
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A comissão de investigação sobre o polêmico papel do Reino Unido na guerra do Iraque começou os seus trabalhos nesta terça-feira, 24, com a sua primeira audiência pública. A investigação, que não tem a função de julgar ninguém, tem o objetivo de revelar as circunstâncias do conflito de meados de 2001 a julho de 2009. Para isso, serão entrevistadas testemunhas-chave, entre elas o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair. Críticos da guerra esperam que a investigação cause constrangimento ao ex-premiê e exponha o que consideram mentiras usadas para justificar a invasão do país árabe.

 

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O comitê investigador, presidido pelo ex-subsecretário permanente do Ministério para a Irlanda do Norte John Chilcot, examinará em sua primeira jornada a política externa britânica que precedeu a invasão, em 2003. Também escutará o testemunho de Sir Peter Ricketts, que presidiu o Comitê Conjunto dos Serviços de Inteligência entre os anos 2000 e 2001. Chilcot prometeu uma análise "justa" e "rigorosa" do conflito, para não repetir erros. Do lado de fora, membros da Coalizão Stop the War protestaram usando máscaras de Blair e mostrando dinheiro manchado de vermelho, representando sangue.

 

Os integrantes do comitê foram escolhidos pelo próprio governo, o que fez duvidar sobre sua independência. Chilcot se esforçou, no entanto, ao assegurar que se chegará até o fundo e não será um simples exercício destinado a exonerar aos políticos. A investigação, que examinará o período compreendido desde 2001 até 2009, durará vários meses, e Blair não prestará declaração até depois do Ano Novo. Daqui até o Natal, altos funcionários, diplomatas e chefes militares apresentarão suas versões dos fatos.

 

"A investigação sobre o Iraque foi estabelecida para identificar o que pode ser aprendido da participação do Reino Unido no Iraque, com o objetivo de ajudar futuros governos que possam enfrentar situações similares", destacou, ao informar sobre como a investigação se desenvolverá até sua conclusão, no final de 2010. Chilcot destacou que o comitê é "independente", não responde a "nenhum partido político" britânico e seu principal objetivo é avaliar as provas que forem apresentadas, através da declaração de testemunhas e o estudo de documentos governamentais e secretos.

 

"Ninguém está submetido a julgamento. Não podemos estabelecer culpabilidade ou inocência. Só um tribunal pode fazê-lo. Mas, quando chegarmos ao relatório final, me comprometo a não evitar as críticas", afirmou Chilcot.

 

Os cinco membros do comitê, entre os que há dois historiadores, examinaram uma "montanha de documentos" e entrevistaram familiares da maioria dos 179 militares mortos no conflito. Entre as principais questões que deverão ser esclarecidas estão a da suposta ilegalidade da guerra e se Tony Blair enganou ao Parlamento e ao povo britânico, como sustentam muitos, ao expor as razões para a invasão.

 

Esta é a terceira investigação sobre o conflito: a chamada enquete Butler examinou os erros judiciais dos serviços de inteligência antes da guerra enquanto a enquete Hutton estudou as circunstâncias que levaram ao suicídio do especialista em armamento David Kelly. Kelly foi denunciado por alguém de dentro do governo como o homem que tinha filtrado à "BBC" a notícia que o Executivo de Tony Blair tinha exagerado deliberadamente o perigo das supostas armas de destruição em massa de Saddam Hussein.

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Documentos secretos vazados para a imprensa e publicados no domingo revelaram que o alto escalão militar britânico já realizava planos para a guerra muitos meses antes da invasão, ocorrida em março de 2003, mas os esboços eram tão precários que as tropas foram para o conflito mal preparadas e mal equipadas.

 

Blair foi o principal apoiador de Bush para invadir o Iraque em busca de armas de destruição em massa que nunca vieram a ser encontradas. Para justificar a guerra, ambos basearam-se em documentos e informações obtidas pelos serviços de espionagem que mais tarde mostraram-se defasados ou exagerados. Desde março de 2003, quando forças estrangeiras lideradas pelos EUA invadiram o Iraque, dezenas de milhares de pessoas morreram em episódios de violência, civis iraquianos em sua maioria.

 

(Com Efe e Associated Press)

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