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Voto na Ucrânia deve fortalecer lado pró-Europa

Ucranianos irão hoje às urnas para escolher novo Legislativo, mas partidários da aproximação com a Rússia boicotarão a votação

Por Andrei Netto
Atualização:
Cartazes de candidatos em Slaviansk: votação não ocorrerá no leste conflagrado Foto: VASILY FEDOSENKO/REUTERS

 Dois anos depois de escolher os 450 deputados da Rada, o Parlamento em Kiev, os ucranianos voltam hoje às urnas para, ao que tudo indica, eleger uma ampla maioria pró-Europa, reduzir a representação pró-Rússia e acabar com as poucas cadeiras ainda mantidas pelo Partido Comunista no Legislativo. 

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A eleição antecipada, convocada pelo presidente Petro Poroshenko, será a segunda realizada em um país dividido e em guerra, onde mais de 4,6 milhões de pessoas não poderão expressar sua opinião. 

Tratam-se das primeiras eleições parlamentares após o movimento popular Euromaidan, iniciado em novembro de 2013, que resultou na deposição de Viktor Yanukovich da presidência. Eleita ainda sob influência do ex-chefe de Estado e com forte presença de deputados do Partido das Regiões, pró-Rússia, a atual Rada poderia legislar até 2017, mas foi dissolvida por Poroshenko em setembro.

Em um cenário de pressão social intensa sobre Kiev, o Parlamento vinha sendo acusado de estar freando as transformações exigidas pelos manifestantes de Euromaidan: mais transparência, menos corrupção, aproximação com a União Europeia, reforma política e reforço das Forças Armadas, sucateadas durante os anos de Yanukovich no poder. 

Pelo que indicam as pesquisas de opinião, a estratégia de Poroshenko vai dar certo – e a Rada a ser eleita hoje tem grandes chances de ser a primeira pró-Ocidente desde o fim da União Soviética. De acordo com sondagem realizada pelo Instituto de Sociologia de Kiev, a coalizão Bloco Petro Poroshenko teria 30,4% das intenções de voto, bem distante da Frente Popular, do atual primeiro-ministro, Arseni Yatseniuk, que somaria 10,8% das preferências. Outras quatro coalizões devem ultrapassar a cláusula de barreira de 5% dos votos e chegar ao Parlamento, dentre as quais, duas pró-Europa: a reformista Somopomitch deve obter 8,5%, à frente da Batkivchtchina, representação da oligarca e ex-premiê Yulia Tymoshenko, que deve somar 7,5% dos votos.

As demais, Ucrânia Forte e Bloco de Oposição, são listas de candidatos egressos do Partido das Regiões, com nomes fiéis a Yanukovich ou à Rússia de Vladimir Putin, que devem chegar aos 5%, o que lhes permitiria participar da legislatura. Já o Partido Comunista, remanescente dos anos em que a Ucrânia integrava o bloco soviético, corre o sério risco de desaparecer do mapa político, caindo abaixo do índice mínimo.

A hegemonia pró-Ocidente acontece porque em regiões com alta presença de minorias éticas russas, como Odessa ou Carcóvia, as eleições serão boicotadas por partidários de uma aproximação com a Rússia. Além disso, em Donbass, a bacia mineira formada pelas regiões de Donetsk e Luhansk, de maioria russa, a eleição não deve ser realizada em razão da forte presença de milicianos separatistas. Não bastasse, o país não conta mais com a Crimeia, península ocupada pela Rússia desde fevereiro. O resultado prático é que, como ocorreu em 25 de maio, nas eleições presidenciais, no mínimo 4,6 milhões de eleitores não comparecerão às urnas, segundo levantamento da organização não governamental Opora.

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“Convocar uma eleição antecipada é uma forma de renovar os políticos, ainda mais lembrando que uma parte dos ex-deputados votou as leis liberticidas aprovadas em 16 de janeiro, que foram a primeira razão das cenas de violência que se seguiram”, afirmou ao Estado Iulia Shukan, cientista política da Universidade de Paris X-Nanterre. “Poroshenko tem uma grande popularidade neste momento na Ucrânia e, logo, é um momento oportuno para a convocação de novas eleições.”

O fator complicador é que os combates no leste da Ucrânia não parecem perto de acabar, mesmo com o acordo de cessar-fogo assinado em setembro. Na sexta-feira, houve confrontos nos arredores do aeroporto de Donetsk, cidade devastada pela violência. COM AFP e REUTERS

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