08 de março de 2022 | 16h22
O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, disse que não insiste mais na adesão do país à Otan, uma das questões utilizadas pela Rússia para invadir o território, e, em outro aparente gesto de abertura às demandas de Moscou, Zelenski afirma que está disposto a chegar a um "compromisso" sobre o status dos territórios separatistas no leste da Ucrânia, cuja independência foi reconhecida unilateralmente pelo presidente russo Vladimir Putin pouco antes de lançar o guerra em fevereiro, em entrevista transmitida pelo canal americano ABC..
"Em relação à Otan, moderei a minha posição sobre esta questão há algum tempo, quando entendemos" que a Aliança Atlântica "não está pronta para aceitar a Ucrânia", disse ele nesta entrevista transmitida na noite de segunda-feira, 7.
"A Aliança tem medo de qualquer controvérsia e de um confronto com a Rússia", lamentou.
Zelenski acrescentou que não quer ser presidente de um "país que implora de joelhos" para ingressar na organização.
A Rússia, que invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro e está em guerra nesta ex-república soviética, está exigindo garantias de que Kiev nunca ingressará na Otan, uma aliança transatlântica criada para proteger a Europa da ameaça da União Soviética no início da Guerra Fria.
Pouco antes da invasão, o presidente Putin reconheceu duas "repúblicas" separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia que estavam em guerra com Kiev desde 2014. Agora ele está exigindo que a Ucrânia também reconheça sua independência.
Sobre esta questão, o presidente Zelenski disse à ABC que está aberto ao diálogo.
"Estou falando de garantias de segurança. Acho que quando se trata desses territórios temporariamente ocupados que só foram reconhecidos pela Rússia podemos discutir e chegar a um compromisso sobre o futuro desses territórios", ele explicou.
"O importante para mim é como vão viver as pessoas que estão nesses territórios e que querem fazer parte da Ucrânia", acrescentou, considerando que a questão é "mais complexa do que simplesmente reconhecê-los".
"Este é outro ultimato e nós rejeitamos os ultimatos. O que é necessário é que o presidente Putin inicie um debate, inicie um diálogo, em vez de viver em uma bolha", disse ele.
Na entrevista, Zelenski respondeu ao Kremlin que não aceita seu "ultimato" para frear a invasão e pediu ao presidente russo, Vladimir Putin, que saia de sua "bolha" e permita o "diálogo".
Para o ucraniano, "o que Putin deve fazer é iniciar o diálogo em vez de viver em uma bolha de informação sem oxigênio".
"Ele está em uma bolha recebendo informações e não sabemos se as informações que dão a ele são realistas", explicou.
Quando perguntado sobre a recusa da Otan e dos Estados Unidos em impor uma zona de exclusão aérea na Ucrânia, Zelenski reiterou que é necessário derrubar mísseis russos para "preservar vidas" de civis, já que, segundo observou, há bombardeios contra universidades e hospitais.
"Tenho certeza de que os bravos soldados americanos derrubariam (os mísseis russos) que são lançados contra os estudantes. Tenho certeza de que eles não hesitariam em fazê-lo", comentou.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, reforçou nesta segunda-feira, 7, durante uma visita à Letônia que nem seu país nem a Otan apoiarão uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, pois isso implicaria fazer da Aliança "parte" do conflito.
A posição assumida pela Otan é enviar armas aos ucranianos para se defenderem do ataque russo, mas não mobilizará soldados ou aviões na Ucrânia, país que não faz parte da Aliança Atlântica. /AFP, EFE
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