WASHINGTON - Dos estrondosos tropeços no Congresso até as súbitas e inesperadas mudanças de política, Donald Trump claramente se viu enfrentando um difícil aprendizado em seus primeiros meses na liderança da Casa Branca.
Embora o novo presidente americano tenha mostrado sua capacidade de mudar o tom e de opinião, já encontrou enormes dificuldades de transmitir uma visão global articulada. O presidente que prometeu aos americanos que, com sua chegada à Casa Branca, eles se "cansarão de vencer", alcança a simbólica marca de 100 dias no cargo neste sábado, 29, com a necessidade de enfrentar a dura realidade do exercício de poder.
Ao se aproximar da marca dos 100 dias, Trump já é o mais impopular presidente americano da história moderna. O empresário de 70 anos, cuja eleição provocou ondas de preocupação em todo o mundo, ainda se apega ao estilo imprevisível e à retórica arrasadora que marcou sua campanha eleitoral.
Embora tenha prometido "drenar o pântano", em uma referência à burocracia enraizada em Washington, não teve outra saída a não ser reconhecer que tem um dos empregos mais difíceis do mundo. Se durante a campanha foi aclamado ao propor a eliminação do sistema de seguro saúde herdado de Barack Obama, poucas semanas após se instalar na Casa Branca teve de admitir: "Ninguém pensava que a saúde médica fosse um tema tão complicado".
Mais recentemente, recebeu o presidente chinês, Xi Jinping, com quem pretendia discutir a situação na Coreia do Norte, mas rapidamente percebeu a complexidade do assunto."Depois de escutá-lo por 10 minutos, me dei conta de que não é tão simples", disse.
Flexibilidade. Todos os ex-presidentes já lhe disseram: morar na Casa Branca, situada na Avenida Pensilvânia, número 1.600, é um golpe que faz todo o sistema se reacomodar. "Há algo único neste emprego que todo presidente enfrenta: quando uma coisa chega, as pressões do trabalho e a realidade do mundo se mostram diferentes do que você pensava", disse recentemente o ex-presidente George W. Bush.
Trump não escapou deste processo e talvez seja o único que ainda mantenha o hábito de publicar inúmeras mensagens no Twitter, muitas delas inspiradas na emissora conservadora Fox News.
Para Trump - que chegou à presidência dos EUA sem nunca ter ocupado um cargo político e sem ter qualquer experiência política ou militar -, a abordagem de estar aberto à evolução parece funcionar. "Eu mudo e sou flexível, sinto orgulho da minha flexibilidade", disse pouco antes de autorizar o lançamento de 59 mísseis contra uma base aérea do regime de Bashar Assad na Síria.
Isso é tão evidente que até o jornal Washington Post, geralmente muito crítico sobre o novo presidente, publicou um editorial em que saudou Trump por ter mudado de posição em temas fundamentais para o país, como as relações com a China, a Rússia e os países da Otan.
"Quando um presidente deixa de estar completamente equivocado para estar absolutamente certo sobre temas tão importantes, a resposta adequada não é zombar, mas comemorar, ainda que seja com cautela", publicou o jornal.
"Trumpismo". A forma e o estilo apontam que Trump é um presidente diferente de todos os que o antecederam. Em uma entrevista dada em março à revista Time, em que defendeu suas excêntricas declarações, não teve problemas em afirmar: "O que posso dizer? Tenho o costume de ter razão".
Com três meses na Casa Branca, muitos de seus críticos consideram que um perfil de Trump elaborado pelo escritor Philip Roth para a revista The New Yorker em janeiro era adequado e justo. No texto, o autor descreveu o republicano como um presidente "ignorante no que se refere ao governo, à história, à filosofia, à arte, incapaz de expressar ou reconhecer sutilezas” e “dono de um vocabulário de 77 palavras". O hábito do mandatário deu origem ao que se chama de “Trumpismo”, a capacidade de se comunicar com simples frases.
Veja abaixo: Ataque à Síria é 'vital para segurança nacional', diz Trump
Entre as conquistas de seus primeiros três meses de governo, destaca-se a nomeação bem-sucedida do juiz federal Neil Gorsuch para ocupar o posto vago na Suprema Corte, uma nomeação que definiu o perfil deste tribunal.
Entretanto, Trump se referiu à marca dos 100 dias de governo como um "padrão ridículo", ainda que fontes de sua equipe tenham concordado de que se trata de um indicador importante sobre a vitalidade da nova administração. / AFP