PUBLICIDADE

35 palestinos e 6 israelenses mortos em dia sangrento

Por Agencia Estado
Atualização:

Apesar de uma nova pressão dos Estados Unidos por um cessar-fogo no Oriente Médio, Israel atacou nesta sexta-feira cidades e campos de refugiados palestinos, matando pelo menos 35 palestinos no dia mais sangrento em 17 meses de confrontos. No lado israelense, cinco adolescentes e um soldado foram mortos por palestinos, e a polícia de Jerusalém abortou um atentado suicida à bomba. Batalhas de horas ocorreram num vilarejo de Gaza e em dois campos de refugiados da Cisjordânia, com palestinos sendo alvejados por metralhadoras de tanques e helicópteros. Dezesseis palestinos foram mortos, entre eles um general, na vila de Khouza, em Gaza. Nem ambulâncias entram No campo de Tulkarem, um dos locais sitiados, soldados com alto-falantes exigiram que todos os militantes se rendessem, e cerca de 250, entre eles vários membros de forças de segurança, foram cercados numa escola local. Entretanto, vários militantes continuavam em esconderijos. Tropas israelenses impediram que ambulâncias entrassem no campo para resgatar feridos. Seis palestinos foram mortos, e a expectativa era de que o número aumentaria. Entre os palestinos mortos nesta sexta-feira estavam vários civis, inclusive dois meninos, de nove e 11 anos, uma mulher cuja casa foi atingida por um disparo de canhão de tanque, um médico numa operação de resgate e um administrador de hospital em seu carro. EUA exigem fim dos ataques Em Washington, o governo Bush exigiu a suspensão imediata dos ataques israelenses. Citando ataques contra ambulâncias palestinas, o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, disse que, "acima de tudo, civis não deveriam ser alvejados". No assentamento judaico de Atzmo, na Faixa de Gaza, um militante palestino de 19 anos, seguidor do grupo Hamas, matou cinco adolescentes judeus depois de ter invadido um dormitório e uma sala de estudos, atirando e lançando granadas durante 15 minutos, antes de ser morto por soldados. Esta semana foi a mais sangrenta desde 28 de setembro de 2000 - com 107 palestinos e 36 israelenses mortos. O secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, telefonou nesta sexta-feira para o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, e para o presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat, anunciando a chegada na semana que vem do enviado especial à região, Anthony Zinni. ?Sob fogo? O enviado já fracassou duas vezes antes, mas autoridades dos Estados Unidos consideraram que, na atual situação, os riscos envolvendo uma nova missão são menores que os riscos advindos de um distanciamento. Sharon sugeriu nesta sexta que estava abandonando sua insistência de que era obrigatório uma semana de completa calma antes que os dois lados começassem a implementar uma trégua. "As negociações para parar o tiroteio serão realizadas sob fogo", disse ele à tevê isralense. Em preparação para a visita de Zinni, o gabinete israelense se reunirá no domingo a fim de aprovar formalmente dois planos que têm o endosso dos EUA e que oferecem um caminho para se alcançar um cessar-fogo e a retomada de conversações de paz. Os planos foram elaborados pelo diretor da CIA George Tenet e uma comissão internacional encabeçada pelo ex-senador norte-americano George Mitchell. Arafat Arafat, enquanto isso, pediu a Powell para intervir nos confrontos. "O presidente Arafat disse (a Powell) que os Estados Unidos devem trabalhar imediatamente para parar essa escalada israelense", afirmou o ministro palestino Saeb Erekat. Também nesta sexta, oficiais da inteligência palestina anunciaram que haviam detido Majdi Rimawi, o quinto e último suspeito a ser preso por envolvimento no assassinato, em outubro último, do ministro do Turismo israelense Rehavam Zeevi. Israel tem dito que só suspenderia uma proibição de viagem a Arafat depois da prisão de todos os suspeitos. Arafat, confinado na cidade de Ramallah, na Cisjordânia, desde dezembro, tem pressionado para poder participar de uma cúpula da Liga Árabe em Beirute no final do mês. Iniciativa de paz No Cairo, ministros do Exterior árabes trabalham no esboço de uma nova iniciativa de paz a ser apresentada na cúpula, informou o ministro do Planejamento palestino, Nabil Shaath. O esboço contempla exigências mais específicas a Israel do que a proposta do príncipe herdeiro saudita Abdullah de oferecer a paz e o reconhecimento árabe em troca de uma retirada israelense de todos os territórios árabes capturados na Guerra dos Seis Dias, travada em 1967. O esboço afirma que um acordo de paz deve ser baseado em resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU) e que o destino dos refugiados palestinos tem de ser contemplado, afirmou Shaath. Denúncias No confrontos desta sexta, médicos palestinos denunciaram que, em diversas áreas, tropas israelenses impedem que ambulâncias cheguem aos feridos e que muitas pessoas foram deixadas sangrando até a morte. As Forças de Defesa de Israel não comentaram imediatamente a denúncia, mas têm dito que palestinos usam ambulâncias para contrabandear armas e atiradores. A batalha mais sangrenta desta sexta ocorreu na vila de Khouza, no sul de Gaza. Dezesseis palestinos foram mortos, e 55 ficaram feridos. Entre os mortos está um comandante regional das forças de segurança palestinas, major-general Ahmed Mefraj. Quatorze dos mortos eram homens armados. Seqüestro de ambulância Militares israelenses dispararam com helicópteros e tanques e num determinado momento seqüestraram uma ambulância palestina para usar como cobertura durante um ataque, disseram testemunhas. O Exército de Israel afirmou que a vila era um "centro de atividade terrorista". Mais tarde, helicópteros israelenses lançaram quatro mísseis contra um quartel-general da segurança palestina na cidade vizinha de Khan Yunis. O chefe da polícia palestina de Gaza, general de brigada Abdel Razek Majaidie, estava no prédio quando ouviu a aproximação dos helicópteros e fugiu minutos antes da primeira explosão. Majaidie acusou Israel de tentar assassiná-lo. Forças israelenses também atacaram um posto da polícia palestina ao norte da Cidade de Gaza depois da meia-noite. Embarcações de combate dispararam metralhadoras, e helicópteros lançaram três mísseis contra o posto. Cinco palestinos foram mortos, inclusive um paramédico numa ambulância. Belém Também nesta sexta, tanques e tropas israelenses entraram em Belém por duas direções. Helicópteros de Israel dispararam contra o campo de refugiados de Aida, na cidade, depois que palestinos atiraram contra um posto avançado israelense. Seis palestinos foram mortos e 20 ficaram feridos. Entre os mortos estava uma mulher cuja casa foi atingida por um disparo de tanque, e Ahmed Sbeih, 42 anos, administrador de um hospital, cujo carro foi destruído por um projétil de canhão de tanque. Em Jerusalém, a polícia capturou um palestino que levava uma grande quantidade de explosivos. Policiais mataram o homem quando ele estava prestes a detonar os explosivos. Missão Zini A missão de Zinni se apóia nos planos elaborados no ano passado por Tenet e uma comissão internacional liderada pelo ex-senador Mitchell. Israel tem dito que concorda com as propostas, mas o gabinete nunca as aprovou formalmente. Pelo plano de Mitchell, que prevê medidas para criar confiança entre as partes em vista da retomada das conversações de paz, Israel teria de congelar a construção em assentamentos judaicos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, algo que enfrenta forte oposição entre setores do governo Sharon.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.