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50 anos depois, Everest ainda desafia

A mais alta montanha do mundo, cujo cume foi atingido pela primeira vez há meio século, continua fascinando os alpinistas

Por Agencia Estado
Atualização:

Poucos desafios na Terra se equiparam a escalar o Monte Everest. Todos os anos, centenas de alpinistas e aventureiros pagam milhares de dólares para tentar chegar ao seu pico, no topo do mundo, a 8.850 metros de altitude. As condições estão entre as mais extremas possíveis: acima dos 7.500 metros, a concentração de oxigênio no ar equivale a apenas 30% da pressão atmosférica ao nível do mar e a temperatura pode chegar a 30 graus negativos. A primeira tentativa de escalar a montanha ocorreu em 1921, mas o cume só seria conquistado em 29 de maio de 1953, há quase 50 anos, por Edmund Hillary, um apicultor neozelandês apaixonado por montanhas, e Tenzing Norgay, um sherpa de origem indiana. No meio século que se seguiu, outras 1.200 pessoas deixaram suas pegadas no ponto mais alto do planeta. Outras tantas tentaram, mas não chegaram lá, e 175 morreram na montanha. Pouco a pouco, o Everest se tornou ponto turístico e ícone da superação humana, cobiçado por aventureiros no mundo inteiro. "Qualquer alpinista, para se sentir completo, precisa subir o Everest", diz o montanhista brasileiro Rodrigo Raineri, que tem planos de escalá-lo em 2004. Neste momento, com a aproximação da data de aniversário, mais de 600 pessoas estão divididas entre a China e o Tibete, esperando a vez de subir a montanha. O recorde de conquistas em um mesmo dia, por enquanto, ocorreu em 23 de maio de 2001, quando 88 pessoas alcançaram o cume. Anteontem, o japonês Yuichiro Miura, de 70 anos, converteu-se no homem mais velho a chegar a seu topo, ao lado do filho, Goto, de 33, e uma equipe de alpinistas. Logicamente, as chances de chegar ao topo do Everest hoje são muito maiores do que há 50 anos, graças ao acúmulo de experiência e ao avanço da tecnologia. Ao contrário de Hillary e Norgay, que desbravaram cada centímetro da montanha sem saber o que viria pela frente, os alpinistas modernos caminham por rotas pré-traçadas, com o auxílio de equipamentos muito mais leves e eficientes, radiotransmissores, previsão do tempo e - talvez mais importante do que tudo - a experiência dos guias sherpas, alguns dos quais já chegaram ao cume diversas vezes. Tecnicamente, escalar o Everest é relativamente fácil para alpinistas experientes. O "índice de morte" na montanha é de 11%, causado principalmente por avalanches e quedas. O gosto da aventura, entretanto, parece não ter mudado. "Apesar da tecnologia e do turismo, o Everest ainda é um grande desafio", diz o alpinista paranaense Waldemar Niclevicz. "O Everest jamais vai perder seu fascínio; vai ser sempre a maior montanha do mundo." Niclevicz é o único brasileiro vivo a ter chegado ao cume. Em maio de 1995, ele e o carioca Mozart Catão subiram ao topo pela face norte da montanha, como parte de uma expedição internacional. Catão foi morto por uma avalanche três anos depois, com dois brasileiros, quando tentava escalar a face sul do Monte Aconcágua, Argentina (6.962 metros), considerada uma das escaladas mais difíceis do mundo. Niclevicz tentou subir o Everest outras duas vezes, em 1991 e 2002, mas teve de voltar atrás, uma vez por falha no regulador de oxigênio, outra por causa do acúmulo de neve. A decisão de voltar atrás é um dos momentos mais difíceis para um alpinista. Chegar ao Everest requer anos de planejamento, preparação física e psicológica, além de investimento pesado. Montar uma expedição custa, no mínimo, US$ 150 mil em transporte, licenças e equipamentos, segundo Raineri. No ano passado, ele e o amigo Vitor Negrete foram os primeiros brasileiros a subir a face sul do Aconcágua. O próximo desafio, claro, é o Everest. Com um detalhe: eles planejam escalar sem usar oxigênio engarrafado. Para Negrete, esse é o verdadeiro limite. "O oxigênio é como um doping, pois o corpo sente como se estivesse mil metros abaixo do que realmente está." Dos 1.200 alpinistas que chegaram ao cume do Everest, menos de 85 o fizeram sem oxigênio suplementar. O primeiro foi Reinhold Messner, em 1980, quando todos pensavam ser impossível. "Foi como ir à Lua sem a roupa de astronauta", diz o explorador brasileiro Thomaz Brandolin, que já esteve duas vezes na Antártida, duas no Pólo Norte (uma delas sozinho) e organizou a primeira expedição brasileira ao Everest, em 1991. A equipe chegou a 7.100 metros, mas teve de recuar diante de uma tempestade de vento. Veja galeria de fotos

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