A atuação globalizante dos EUA

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Por Gilles Lapouge
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Concluída sua viagem pelo Oriente Médio, Hillary Clinton desembarcou ontem em Bruxelas, onde se reuniu com seus homólogos da Otan. Amanhã, segue para Genebra, onde se encontrará com o chanceler russo, Serguei Lavrov. Nada é por acaso esse programa. Os americanos perseguem três objetivos, aparentemente discordantes, mas ligados. Em primeiro lugar, deixar claro que os EUA de Barack Obama, contrariamente a George W. Bush, respeitam seus aliados, especialmente a Europa. Segundo, tornar a Otan mais dinâmica. E por último, reencontrar o caminho e talvez a amizade de Moscou. É o capítulo russo que predomina. Desde que assumiu o cargo, Obama tem tranquilizado Moscou. E deve acabar com a desavença provocada pela invasão da Geórgia, ordenada pelo presidente Dmitri Medvedev. Já está sendo anunciada uma sessão extraordinária Otan-Rússia, cujos trabalhos foram paralisados pelos 26 países aliados, para condenar a intervenção russa na Geórgia. Obama enviou uma carta a Medvedev em fevereiro. O assunto: resolver o psicodrama do escudo antimíssil, que os EUA querem instalar no Leste Europeu e deixou os russos "enlouquecidos". Na carta, Obama explicou que os EUA buscam se proteger do Irã. Acrescentou que, se a Rússia se dispuser a trabalhar com Washington, isso poderá forçar os iranianos a serem mais sensatos. No caso, o escudo já não seria necessário. Os russos responderam vagamente, mas não fecharam a porta. Os americanos querem igualmente fortalecer a Otan. É isso que vai dar brilho à reunião de cúpula marcada para o início de abril em Estrasburgo. A França provavelmente anunciará seu retorno à aliança, após meio século de desavença. Serão acolhidos novos membros? Sem dúvida, a Albânia. A Croácia, talvez. Por outro lado, Ucrânia e Geórgia continuarão batendo na porta. E ela não será aberta. Qual a razão? Porque esses dois países estão na antessala da Rússia. Aceitar seu ingresso na Otan alimentaria a impressão de "cerco" que os russos estão sentindo. Aliás, foi para impedir a entrada da Geórgia na Otan que a Rússia lançou sua violenta operação contra o país no ano passado. É cedo para um prognóstico sobre a diplomacia de Obama. Mas ela é de grande visão, preocupada com os equilíbrios e interações que se formam entre as grandes zonas do mundo e no âmbito de cada uma dessas zonas. * Giles Lapouge é correspondente em Paris

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