CARACAS - Centenas de pessoas protestaram nesta quinta-feira, 17, na praça do povoado costeiro de onde saiu a embarcação lotada de migrantes venezuelanos que naufragou a caminho de Trinidad e Tobago, deixando oficialmente 28 mortos.
Güiria (Sucre, nordeste da Venezuela), a 100 km de Puerto España, se tornou uma popular rota de saída para aqueles que, fugindo da crise, querem entrar ilegalmente em Trinidad.
Mas a travessia é muito perigosa e centenas de pessoas desapareceram na tentativa, embora nunca nos outros naufrágios os corpos tenham sido encontrados.
Cerca de cem pessoas desapareceram nesta travessia entre 2018 e 2019.
Todas as pessoas a bordo da embarcação, que saiu em 6 de dezembro e naufragou, eram deste povoado, que a cada funeral vai da tristeza à indignação ao que asseguram ser uma resposta pobre no resgate e no controle da operação de tráfico de seres humanos.
"Justiça! Justiça!", gritavam os 800 manifestantes que marcharam da praça do povoado, onde fica a igreja, pelas ruas com cartazes, apitos e bandeiras venezuelanas.
As autoridades venezuelanas, que abriram uma investigação, dispuseram há dois dias de um helicóptero para apoiar a busca de vítimas deste naufrágio, cujas condições não estão claras.
Sabe-se apenas que os primeiros corpos apareceram a 13 km da costa venezuelana na sexta-feira passada e foram encontrados por um navio-patrulha da guarda costeira.
No entanto, Tadira Mata, professora de educação física, disse que a resposta oficial chegou tarde demais.
"Desde o momento em que isto aconteceu aqui não houve quem ajudasse, quem saiu para procurá-los foram os pescadores com a pouca gasolina que têm", disse à Agência France-Presse a mulher, afirmando ter perdido dez ex-alunos no naufrágio.
Os pescadores continuam saindo todos os dias de madrugada para fazer buscas. Às vezes passam fora o dia todo, até a noite.
A marcha chegou até o comando da Guarda Nacional, responsável pelo tráfego de embarcações.
"A corrupção é terrível na Guarda Nacional, só lhes interessa ganhar o dinheiro com a entrada e a saída dos barcos", criticou Carla, de 40 anos, moradora do povoado e participante do protesto.
Mais cedo, o procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, informou que dos 28 mortos no naufrágio, 26 foram identificados.
Os primeiros corpos apareceram na sexta-feira passada durante uma operação de rotina de um barco de patrulha da guarda costeira.
Segundo Saab, cada um dos migrantes a bordo do barco pagou 150 dólares ao que definiu como uma "máfia" de tráfico humano, sobre a qual seu despacho emitiu quatro novos mandados de prisão.
As autoridades prenderam até o momento duas pessoas pelo caso: o dono da embarcação e o proprietário da fazenda de onde partiu. Serão acusados, explicou o funcionário, por "tráfico ilegal de pessoas e associação criminosa".
O Ministério Público também pediu a prisão de sete militares da Guarda Nacional por extorsão, como resultado de uma investigação vinculada com o ocorrido.
A ONU estima que mais de cinco milhões de venezuelanos deixaram seu país desde 2015 forçados pela crise e que cerca de 25 mil escolheram Trinidad e Tobago como destino. O país insular, de 1,3 milhão de habitantes, diz que facilitou o registro para 16 mil venezuelanos. /AFP