PUBLICIDADE

'A forma como o ataque foi praticado foge dos padrões'

Cientista político e professor de Relações Internacionais da USP prevê aumento do clima de insegurança na França e na UE

Por Alessandro Giannini
Atualização:

Professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, Samuel Feldberg diz que o atentado de ontem contra o jornal de humor francês Charlie Hebdo foge do padrão de outros ataques de radicais. Para Feldberg, há poucos elementos para afirmar se há ou não um grupo organizado por trás dos autores. O que o cientista político prevê é o aumento do clima de insegurança na França e na Europa.

Samuel Feldberg, professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo Foto: Reprodução

PUBLICIDADE

O que o ataque de ontem contra o jornal de humor francês Charlie Hebdo tem de diferente de outros atentados da mesma natureza? A forma como o ataque foi praticado foge do padrão de outros mais comuns e da mesma origem extremista.

Quais são as características? As evidências mostram que houve alguma organização. Os perpetradores sabiam da rotina do jornal e das pessoas que queriam atingir, chamaram-nos pelo nome antes de atirar e estavam bem coordenados entre si. Houve inteligência e organização.

Qual seria o padrão? O mais comum é o do chamado “lobo solitário”, que se arma de forma improvisada, escolhe alvos aleatórios em locais públicos e não planeja uma evasão. O incidente de hoje aponta para uma direção contrária.

Diante das evidências, o senhor diria que há um grupo radical organizado por trás do atentado contra o Charlie Hebdo? Acho que ainda não há elementos suficientes para arriscar um palpite. Até agora, nenhum grupo reivindicou a ação.

Quais consequências podemos prever? Isso cria uma atmosfera de insegurança e o recrudescimento das medidas de contenção de atentados terroristas. Eu não gostaria de ser um viajante muçulmano originário do Oriente Médio indo para a Europa ou para os EUA neste momento. Vai haver uma reação à percepção de que o ataque foi motivado por razões religiosas islâmicas e os preconceitos, ninguém pode negar, aflorarão.

Internamente, na UE, o sr. imagina outras consequências? Para a imigração de países muçulmanos, talvez. E para os refugiados originários da Síria e Iraque, principalmente. Além das gerações de filhos de imigrantes e de civis ocidentais simpáticos ou convertidos ao islamismo que se misturam com facilidade por não terem traços ou biotipos que sejam identificáveis.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.