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A guerra anuncia-se suja e não convencional

Por Agencia Estado
Atualização:

A guerra que os Estados Unidos levarão adiante contra o terrorismo internacional será "suja" e nada convencional. Neste sentido, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ratificou nesta segunda-feira as medidas necessárias, chegando a utilizar frases de xerife do faroeste para incitar a caçada ao milionário saudita Osama bin Laden, principal suspeito pelos atentados da semana passada contra o World Trade Center, em Nova York, e o Pentágono, em Washington. Permissão para matar Existem inclusive versões, segundo as quais "os espiões do céu" foram reprogramados para localizar Bin Laden. O vice-presidente Dick Cheney convidou a CIA (o serviço secreto norte-americano) a "sujar suas mãos", pois "trabalhar com os bonzinhos nem sempre é o bastante para descobrir o que fazem os maus". O senador Bob Graham, presidente da Comissão de Inteligência do Senado, declarou na semana passada: "Não encontraremos os espiões dos quais precisamos dentro de monastérios". O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, reconheceu que a lei que impede agentes norte-americanos de assassinar líderes estrangeiros "está em debate". Pacote de medidas Por sua vez, o secretário de Justiça, John Ashcroft, enviou ao Congresso um pacote de medidas que em outras circunstâncias poderia impressionar alguns parlamentares por atentarem contra a liberdade, mas que, no clima que impera no Congresso, não serão questionadas. Os jornais norte-americanos advertiram claramente a opinião pública. O The New York Times foi bem longe e sustentou que "a nova guerra não será uma guerra de ocupação", como o foi, no fundo, a Guerra do Golfo. Além disso, advertiu que nenhuma possibilidade deve ser descartada e que "o objetivo será acabar com o apoio do Afeganistão ao terrorismo, castigar o Taleban e diminuir seu controle sobre o território". Em resumo, George W. Bush não cometerá o mesmo erro de seu pai George H. Bush, o 41º presidente dos EUA, que derrotou o Iraque em 1991, na Guerra do Golfo, mas deixou no poder o líder iraquiano Saddam Hussein. Guerra de outro tipo Para lutar uma guerra desse tipo é preciso organizar forças e operações especiais, ou seja, infiltrar-se em território inimigo, realizar ações de sabotagem, individualizar e "iluminar" os objetivos para torná-los visíveis aos mísseis de cruzeiro e organizar movimentos de guerrilha e atividades de guerra psicológica. Para alcançar tal objetivo, os Estados Unidos dispõem de forças com capacidade de realizar operações especiais, entre os quais se encontram entre 35.000 e 40.000 homens, alguns de elite como os Rangers e os Boinas Verdes do Exército, as unidades Seal da Marinha e grupos táticos especiais de aviação. Novos poderes Em jogo, está não só a frente externa, mas também a interna. Neste sentido, o jornal Washington Post analisa os "novos poderes" pedidos pelo governo para lutar contra os terroristas, a começar pelas interceptações de chamadas telefônicas sem autorização. O Washington Times, mais conservador, foi mais duro e defendeu que "a estratégia antiterrorismo exige a permissão do assassinato". Imediatamente, o Congresso dos Estados Unidos iniciou o exame das medidas solicitadas pelo ministro Ashcroft, que servem para dar aos agentes poder de vigilância e controle, principalmente na questão dos sistemas de comunicação. Limitações à própria liberdade As medidas darão mais liberdade de denúncia aos investigadores, uma extensão dos prazos de detenção de estrangeiros suspeitos de atividades anti-americanas e penas mais severas que as atuais contra os cúmplices, iguais às aplicadas nos casos de espionagem. "É preciso se apressar", disse o porta-voz de Ashcroft, Mindy Tucker, pois os EUA "podem ter em seu território pessoas ligadas ao terrorismo". Ainda sob o impacto dos ataques, a opinião pública norte-americana admite, como é possível comprovar em alguns programas de televisão, estar disposta inclusive a admitir limitações à própria liberdade, se isto ajudar na luta contra o terrorismo.

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