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A Líbia retorna ao foco do Ocidente

Última intervenção no país contribuiu para o caos atual, com milícias que se uniram contra Kadafi confrontando-se

Por LAURA , KING e LOS ANGELES TIMES
Atualização:

Durante quase quatro anos o Ocidente manteve-se à margem da Líbia enquanto o país descambava para o caos após a revolução. Agora, com a decapitação de egípcios cristãos pelo Estado Islâmico (EI), a coalizão ocidental poderá retornar a esse emaranhado de combates no país norte-africano.O Egito, em retaliação à cruel execução dos 21 cristãos coptas, lançou dois ataques aéreos contra a Líbia na segunda-feira. Ao mesmo tempo, lançou uma ofensiva diplomática, qualificando o grupo militante sunita e seus grupos armados aliados na Líbia como uma ameaça universal que deve ser enfrentada energicamente e não só pelo Egito. Segundo a chancelaria do país, se a coalizão militar liderada pelos Estados Unidos não agir na Líbia de modo tão "firme" como os ataques aéreos contra o EI na Síria e no Iraque, então estará adotando uma política de dois pesos e duas medidas.No Egito, o horror provocado pelas execuções, retratadas num vídeo divulgado no domingo, ainda era profundo na segunda-feira. No distrito de Minya, ao sul do Cairo, parentes choravam se agarrando a fotos de seus parentes. O presidente Abdel-Fattah al-Sissi dirigiu-se à principal catedral copta do Cairo para oferecer suas condolências.Se a reação militar do Egito foi rápida, a diplomática também não tardou. O chanceler Sameh Shukri recebeu ordens para pedir ao Conselho de Segurança da ONU uma ação contra o EI. Aparentemente, a mensagem do EI teve por objetivo galvanizar uma resposta da Europa. No vídeo divulgado no domingo, o chefe dos algozes refere-se à base de apoio do grupo a menos de 800 km das praias da Europa e do centro da cristandade, descrevendo esse campo de morte como "sul de Roma".Na Itália, da qual a Líbia foi colônia, autoridades querem uma intervenção militar. O país vem arcando com uma onda de refugiados da Líbia, no momento um país acéfalo apesar de ter dois governos que competem entre si. Na Líbia, onde a situação já era tenebrosa mesmo antes do EI, combatentes que juraram fidelidade ao grupo assumiram o controle parcial de diversas cidades, incluindo o porto de Derna, onde ocorreram os ataques aéreos egípcios na segunda-feira. O EI também está fortalecido na cidade costeira de Sirte, enquanto em Trípoli, a afiliada do EI assumiu responsabilidade por um ataque a um hotel de luxo.Mas o EI não controla grandes faixas de território na Líbia, como ocorre na Síria e no Iraque, e não é uma força dominante no país.Os ataques aéreos de segunda-feira constituíram a primeira intervenção declarada do Egito na guerra que irrompeu na Líbia desde que o ditador Muamar Kadafi foi deposto e morto em outubro de 2011.À medida que a ordem regional pós-Primavera Árabe descambou para uma luta entre islamistas e governos autoritários como o de Sissi, a Líbia transformou-se num campo de batalha substituto. O Catar, que apoiou o presidente islamista destituído Mohamed Morsi, tem fornecido armas para os islamistas da Líbia, ao passo que Egito e seus aliados dão suporte para um ex-general, Khalifa Haftar, que declarou guerra aos islamistas na cidade de Misrata, no leste da Líbia.Para Karim Mezran, do centro para o Oriente Médio Rafik Hariri, do Atlantic Council, na ausência de um acordo entre as partes na Líbia, qualquer intervenção terá um minúsculo impacto em favor do governo internacionalmente reconhecido que tem sede na cidade de Tobruk, cujas forças vêm combatendo milícias poderosas com base em Misrata.Hoje a opinião que prevalece é de que a última grande intervenção estrangeira na Líbia contribuiu para o caos que vemos hoje no país. Os ataques aéreos da Otan em 2011 não foram acompanhados de medidas importantes no plano internacional para estabelecer uma democracia no país. Logo após a queda do ditador, as milícias que supostamente se uniram para derrubá-lo começaram a se confrontar. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO É CHEFE DA SUCURSAL NO CAIRO

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