A ligação de Lugo com a guerrilha paraguaia

Rebeldes do EPP teriam sido seminaristas na época em que o presidente era bispo; mas ao tornar o grupo o grupo o maior inimigo do Estado, ele afasta o risco de sofrer impeachment

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Por ALFREDO BOCCIA PAZ
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Há poucos dias, a vitória de Fernando Lugo completou dois anos. Previa-se que ele teria muitos problemas para governar um país dominado pelo Partido Colorado nos último 60 anos. Entretanto, ninguém previu que sua principal dor de cabeça seria um minúsculo e curioso grupo de guerrilheiros denominado Exército do Povo Paraguaio (EPP). Embora a história do EPP tenha começado anos atrás com pequenas operações no nordeste do país - a região mais pobre e mais desprovida da presença do Estado -, parecia uma tentativa um tanto alucinada de criar as condições de um levante armado. O tempo demonstrou que essa conclusão era apressada. As coisas começaram a mudar quando o EPP conseguiu realizar dois sequestros sem sofrer nenhuma baixa relevante. Dois conhecidos pecuaristas - Luis Lindstrom, em julho de 2008, e Fidel Zavala, em outubro de 2009 - foram libertados depois que suas famílias pagaram o resgate. O EPP recebeu mais de US$ 1 milhão sem que as buscas policiais dessem qualquer resultado. Sua capacidade de misturar-se entre os camponeses e seu treinamento de sobrevivência na selva foram surpreendentes. O EPP quer tornar-se uma sucursal política e ideológica das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), das quais recebeu instrução militar. Os problemas não seriam tão graves para Lugo não fosse por um detalhe: os supostos guerrilheiros são seminaristas que tiveram contato com ele na época em que ele era bispo. As acusações jamais foram comprovadas, mas serviram para aumentar a suspeita de que Lugo não tem realmente intenção de prendê-los. Embora a ineficiência da polícia - que sempre chega tarde e encontra acampamentos vazios - colabore com a hipótese, dificilmente se poderá acreditar que Lugo atente contra si mesmo para protegê-los. Lugo deixou de se preocupar com as críticas e solicitou estado de exceção em cinco Departamentos (Estados) do Paraguai. A medida parece mais uma mensagem de firmeza para a imprensa do que uma coisa prática. De fato, em Pedro Juan Caballero, zona militarizada na fronteira com o Mato Grosso do Sul, traficantes balearam um senador e mataram dois guarda-costas. Se Lugo conseguir pegar algum líder do EPP, conseguirá acabar com o último esforço da oposição para aprovar o impeachment. Se não obtiver resultados, esse fantasma voltará a pairar sobre a sua cabeça. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLAÉ ANALISTA POLÍTICO DO JORNAL DE ASSUNÇÃO "ÚLTIMA HORA"

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