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A luta do México

É preciso reconhecer o fracasso da guerra às drogas de Calderón e 'desnarcotizar' a relação do país com os EUA

Por Jorge Castañeda
Atualização:

GLOBAL VIEWPOINTA guerra contra o narcotráfico continua a se intensificar no México e não mostra sinais de recuo. Sete dias em março foram os mais violentos nos três anos e meio da presidência Felipe Calderón, com 256 mortes relacionadas à droga.Calderón insistiu que, apesar das aparências, graças à presença, há um ano, de 10 mil soldados, a violência havia começado a ceder. Segundo números de seu governo, houve 536 execuções em Ciudad Juárez desde 1.º de janeiro, 100 a mais que no mesmo período do ano passado. A guerra de Calderón às drogas, desencadeada em 2006, 10 dias após ele assumir, consumiu 18 mil vidas, custou uma fortuna e trouxe danos imensos à imagem do país no exterior. Três questões emergem desse desastre.A primeira é um tanto acadêmica: como o México entrou nessa fria? Como as explicações fornecidas no passado eram falsas (aumento do consumo doméstico de drogas e da violência) ou não demonstráveis (maior corrupção e perda de controle territorial pelo Estado mexicano), a explicação está em outro lugar. Ela consiste, segundo um número crescente de mexicanos, na tentativa de Calderón de se legitimar como presidente após uma eleição apertada, que muitos cidadãos julgaram fraudulenta. Essa estratégia funcionou por algum tempo, enquanto o presidente via sua aprovação subir nas pesquisas. Ela despencou, porém, desde o fim do ano passado.A segunda questão diz respeito à eficácia dessa guerra e se há algum fim à vista. As duas respostas parecem ser negativas. Nenhuma área foi realmente recuperada e aqueles poucos exemplos de sucesso parcial (Tijuana é, talvez, o mais notável) duram enquanto as tropas permanecem no local. O Exército, contudo, está sobrecarregado: de seus 100 mil soldados de patrulha e combate, 96 mil estão em serviço constante.Não há nenhuma análise de custo-benefício que justifique o prosseguimento de uma guerra que, claramente, não está levando a lugar nenhum. O que nos leva à terceira questão: o que mais o México pode fazer? E, como essa é, cada vez mais, uma guerra tanto de Obama quanto de Calderón, o que Washington pode fazer? Há pelo menos três opções, nenhuma delas perfeita.A primeira, e minimalista, é seguir a mesma estratégia, mas de boca fechada. Calderón, às vezes, passa a impressão de que está interessado em ostentar a guerra como algo a travar e vencer. Ajudaria um simples abrandamento da retórica, reduzindo a prioridade atribuída à guerra e enfatizando outras questões.A segunda opção seria zerar o assunto e começar tudo de novo. Isso implica criar uma Força Policial Nacional única, que o México não tem. Somente dessa maneira militares voltarão aos quartéis, que é o seu lugar.Além disso, essa reforma daria maior ênfase à inteligência do que ao combate; mais trabalho na comunidade, em vez da ofensiva nacional em curso; menos importância atribuída a alvos de alto valor; e mais de uma tática de Estado a Estado. Tudo isso pode não fazer muita diferença, mas seria um começo.Uma terceira e muito mais ambiciosa alternativa provocaria uma importante revisão em ambas as capitais. Primeiro, levaria o México a fazer lobby pela descriminalização pelo menos da maconha nos EUA.Da parte do México, isso implicaria uma meia-volta - tirar o Exército das cidades e das estradas, e, até certo ponto, deixar que os cartéis se estraçalhem mutuamente até a morte, enquanto a supramencionada Polícia Nacional é criada.O mais importante, entretanto, é que isso exigiria uma agenda americano-mexicana "desnarcotizada", totalmente diferente, que coloque o desenvolvimento mexicano no topo das prioridades. Essa é uma visão de século 21, pós-Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, na sigla em inglês) em que a segurança joga um papel-chave, mas onde a política para as drogas se torna, novamente, uma questão de aplicação da lei, e não uma de segurança nacional para cada nação. TRADUÇÃO CELSO M. PACIORNIKFOI CHANCELER DO MÉXICO

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