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A missão dos ''supersubsecretários''

Por Thomas Friedman (The New York Times)
Atualização:

Ainda é cedo para dizer por quais inovações políticas a secretária de Estado Hillary Clinton será conhecida. Mas ela já deixou sua marca burocraticamente. Inventou novos cargos diplomáticos que dizem muito sobre a situação da política externa nesses tempos conturbados. Eu os chamaria de "supersubsecretários de Estado". Hillary nomeou três supersubsecretários - George Mitchell, para lidar com as negociações árabe-israelenses; Richard Holbrooke, para cuidar dos assuntos de Afeganistão e Paquistão; e Dennis Ross, para coordenar a política para o Irã. A equipe de Barack Obama parece ter concluído que esses três problemas são tão intratáveis que requerem uma atenção quase em tempo integral do nível de secretário de Estado. Assim, precisa-se de funcionários que tenham mais peso e mais tempo - mais peso que o secretário de Estado adjunto regular para que sejam levados a sério em suas respectivas regiões e mais tempo para trabalhar em cada um desses problemas cruciais isoladamente que um secretário de Estado poderia dedicar numa semana. Alguns zombam que essa abordagem é um sinal de fraqueza de Hillary. Eu descartaria a tese. Se ela conseguir administrar esse time diplomático de primeira linha, a experiência faria muito sentido. Existe um mundo muito conturbado aí fora. Após a guerra árabe-israelense de 1973, o secretário de Estado Henry Kissinger estabeleceu o padrão ouro para mediações negociando os acordos de desmobilização entre Israel e Egito e Israel e Síria - os primeiros acordos de paz genuínos já alcançados entre essas partes. Mas a tarefa de Kissinger foi fácil. Ele teve de forjar um acordo entre um faraó (Anwar Sadat), um ditador militar (Hafez Assad) e uma premiê extraordinariamente poderosa (Golda Meir), cujo Partido Trabalhista dominava Israel. Esses interlocutores podiam falar por seus povos, e sustentar qualquer acordo. PARTES INSTÁVEIS Isso não vale para hoje nos principais teatros do conflito, onde as partes ou são entidades falidas com múltiplos centros de poder - Afeganistão, Paquistão e Autoridade Palestina - ou Estados fortes com governos tão divididos que beiram à paralisia, como Israel e Irã. As lutas políticas nessas sociedades são hoje tão violentas que até que elas sejam desarmadas, será muito difícil chegar a algum acordo. É por isso que os subsecretários são necessários. Assim, Mitchell é, de fato, o supersubsecretário para fortalecer uma Autoridade Palestina coerente e uma posição de negociação israelense coerente para que os dois possam chegar de novo, algum dia, a um acordo". Holbrooke é o super subsecretário para trazer coerência aos governos afegão e paquistanês para que eles possam algum dia ser internamente estáveis e unidos contra o Taleban e a Al-Qaeda". E Ross é o supersubsecretário para reunir uma posição global sobre o incompreensivelmente bizantino Irã para que ele encerre seu programa nuclear. Na Guerra Fria, o mundo estava dividido entre Leste e Oeste. E podia-se contar com a União Soviética para ajudar, promover, e, às vezes, entregar os Estados mais fracos de sua órbita. Hoje, o mundo está dividido entre "regiões de ordem" e "regiões de desordem", e as de desordem são suficientemente grandes e desorganizadas para precisar de supersubsecretários de Estado exclusivos para lidar com o caos. ORDEM E DESORDEM "O mundo hoje pode ser mais bem compreendido se pensarmos nele da perspectiva de regiões e não de Estados", disse o general Jim Jones, consultor de segurança nacional de Obama. E as regiões de desordem provavelmente vão se multiplicar com a metástase da crise econômica mundial. "Quando olhamos para 2009, para cada questão, com exceção do Iraque, tudo está pior", disse Ian Bremmer, coautor de The Fat Tail (A cauda gorda, em tradução livre) sobre os maiores riscos que se apresentam aos tomadores de decisão mundiais. "O Paquistão está pior. O Afeganistão está pior. A Rússia está pior. Os mercados emergentes estão piores. Tudo que há de grande por aí está pior e alguns vão piorar ainda mais com a crise econômica." Há uma tempestade geopolítica se formando, concluiu Bremmer, "e ela ainda não tem cotação no mercado." Alguém notou que o Departamento de Estado emitiu um informe de viagem para o México na semana passada, advertindo que "recentes confrontos entre Exército e polícia com cartéis da droga pareciam combates de pequenas unidades; grandes tiroteios ocorreram em vilas e cidades por todo o país; durante alguns incidentes, cidadãos americanos foram, capturados"? Isso é o México, não o Paquistão. *Thomas Friedman é colunista

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