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A mulher mais poderosa dos EUA

A deputada Nancy Pelosi, presidente da Câmara, brilha na transição e mostra ser peça-chave para Obama implementar as reformas

Foto do author Fernando Dantas
Por Fernando Dantas e Washington
Atualização:

Ela é considerada a mulher mais poderosa dos Estados Unidos, e terá um papel decisivo na implementação da agenda de reformas do presidente eleito Barack Obama. Como presidente da Câmara de Representantes desde 2006, a deputada democrata Nancy Pelosi é a principal responsável em determinar a ordem de votação dos projetos de lei, e exerce uma influência fundamental na aprovação de projetos difíceis. Nancy ganhou mais visibilidade no atual período de transição, com um presidente (George W. Bush)em fim de mandato politicamente fragilizado e outro eleito (Obama), mas que só toma posse dia 20 de janeiro. Recentemente, nos pacotes de socorro ao setor financeiro e à indústria automobilística, ela foi determinante para garantir uma apertada vitória para o governo na Câmara - o dos carros acabou sendo torpedeado no Senado, e o presidente Bush teve de levar a proposta adiante sem o Congresso. O cargo de Nancy é muito importante na estrutura de governo dos Estados Unidos, e está em segundo lugar na linha de sucessão presidencial, depois do vice-presidente. Mas a deputada democrata, a primeira mulher a chegar a esta posição, ampliou ainda mais o poder da presidência da Câmara, demonstrando rara habilidade em dobrar seus oponentes sem misericórdia, mas de uma forma discreta e sem demonstrações exageradas de agressividade. POSIÇÕES LIBERAIS Esta faceta pragmática e astuta contrasta com o perfil ideológico de Nancy, deputada por São Francisco, na Califórnia, e com posições claramente "liberais", palavra que nos EUA significa de esquerda. A elegante deputada, de raiz ítalo-americana e católica, casada, mãe de cinco filhos e avó de vários netos, tem um histórico de abraçar as bandeiras mais deploradas pelos conservadores: defesa do aborto e das pesquisas com células-tronco, aumentos do salário mínimo, direitos dos gays, extensão da seguridade social e restrições ambientais à exploração de petróleo. Nancy também foi contra a guerra do Iraque e é critica contumaz do desrespeito aos direitos humanos na China. Porém, como observa o cientista político Donald Wolfensberger, diretor do Projeto Congresso do Centro Internacional Woodrow Wilson, em Washington, "mesmo sendo uma liberal de São Francisco, Nancy Pelosi sabe que tem de comandar a partir do centro, para manter o seu partido unido". Neste sentido, nota Wolfensberger, a trajetória de Nancy lembra a do próprio Obama. Em termos do seu histórico de votos no Senado, o presidente eleito mostrou-se extremamente liberal, mas está montando um governo centrista. Para construir sua liderança incontestável na Câmara dos Representantes, Nancy confrontou chefes de comitês (equivalentes às comissões do Congresso brasileiro) poderosos. Num episódio recente, o deputado Henry Waxman, da Califórnia, enfrentou John Dingel, de Michigan, e conseguiu substituí-lo no importante Comitê de Energia e Comércio - o enfrentamento foi visto como uma "luta de titãs" no Congresso americano. A raiz da disputa estava na resistência de Dingel, como representante de Detroit, a limites mais rígidos às emissões dos carros, que são vistos como uma bandeira de Obama. Bem ao seu estilo, Nancy apoiou de forma muito discreta Waxman, por meio de aliados como o deputado George Miller, outro democrata da Califórnia. Nancy também é considerada sem paralelos, entre os parlamentares democratas, na capacidade de levantar recursos para as campanhas eleitorais - qualidade valorizada na política americana. No último ciclo eleitoral, ela foi responsável por trazer mais de US$ 26 milhões para a comitê de campanha do partido. A partir de janeiro, Nancy estará numa posição rara na política americana, que lhe dará grande amplitude para exercer o seu poder: com um presidente democrata, que inicia o seu mandato banhado em enorme carisma, e amplas maiorias democratas tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado. Mas a largada inicial da era Obama não será fácil. Nancy terá uma papel preponderante em colocar em tramitação os dez primeiros projetos na Câmara do 111º Congresso americano, uma prerrogativa da maioria democrata. Mas o seu maior desafio será o de conseguir fazer passar na Câmara, em curtíssimo prazo de tempo, o pacote de estímulo econômico de US$ 600 bilhões a US$ 850 bilhões que vem sendo desenhado pela equipe de Obama. A idéia é que tudo seja aprovado nas primeiras semanas do governo Obama, ou idealmente até antes de sua posse - o novo Congresso, resultado das eleições parlamentares realizadas junto com as presidenciais, se reúne pela primeira vez no dia 3 de janeiro.

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