A nova extrema direita francesa

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Por Gilles Lapouge
Atualização:

O furacão político que desabou sobre a Tunísia e derrubou o presidente Zine El Abidine Ben Ali depois de 23 anos de um poder inflexível ocultou certos acontecimentos na França que, no longo prazo, poderão ser determinantes. Primeiro, a saída do líder do partido Frente Nacional (FN), Jean-Marie Le Pen, demagogo de direita, xenófobo, saudoso do regime fascista do marechal Henri Philippe Pétain durante a 2.ª Guerra e até mesmo, quem sabe, da ordem nazista. Os militantes da FN designaram para substituí-lo a sua filha, Marine Le Pen. É a continuidade, mas com uma mudança de estilo. O pai, o melhor tribuno da França - eloquente, culto, engraçado -, era também um "provocador". Adorava quando podia explicar que "as câmaras de gás de Hitler" eram uma "piada". O gosto desenfreado pela insolência afastou de seu partido os homens que, embora próximos a ele, reprovavam seus delírios. E a filha, Marine? Ela segue a mesma linha: a extrema direita, mas a embalagem é mais civilizada. É uma mulher. Até mesmo muito interessante. É bonita, loira e sorridente. E, como o pai, sabe usar muito bem as palavras. Tem a mesma audácia dele, a mesma arte da mentira. Em suma, ela retoma o velho arsenal da extrema direita racista, mas de maneira mais exuberante. Consequentemente, se o pai conseguia reunir em torno de suas teses aproximadamente 10% dos votos, às vezes 15%, deve-se temer que a filha supere essas cifras. Com Le Pen, a Frente Nacional não era nada mais do que um partido fechado no gueto do extremismo. Com a filha, contudo, ele tem todas as possibilidades de se tornar uma legenda como todas as outras, normal e burguesa. A FN deverá ampliar seu eleitorado e, ao mesmo tempo, passar a fazer parte do jogo das instituições republicanas. Quem sofrerá com isto? O presidente Nicolas Sarkozy. Nas últimas eleições, ele derrotou os socialistas reunindo precisamente sob sua bandeira todas as pessoas da ultradireita burguesa revoltadas com os excessos de Le Pen. No entanto, a linguagem escolhida pela filha, seu virtuosismo, sua figura atraente, seu sorriso fácil acabará, provavelmente, por seduzir inúmeros eleitores que, em 2007, votaram em Sarkozy por falta de coisa melhor, mas que, em 2012. Se existir a nova migração da extrema direita burguesa para a FN de Marine, é possível que Sarkozy assista à fuga de uma porcentagem importante de seus eleitores, 5% ou talvez 10%. Isto permitiria que, no primeiro turno das eleições presidenciais de 2012, o Partido Socialista passasse à frente do atual presidente. Nesse caso, tudo pode acontecer. Contra-ataque. Sarkozy, homem político experiente, está consciente da ameaça. Ele remói tudo na sua cabeça. Como ele pode contra-atacar? Poderia tentar se aliar à facção mais razoável da FN. Entretanto, a julgar pelos suspiros que exalam do Palácio do Eliseu, talvez deva optar pelo choque frontal com Marine. Nada de alianças com os extremistas. Somente a batalha. Para poder manter a seu lado eleitores que flertam com Marine, Sarkozy deveria assumir parte do programa do FN, ou seja, a segurança, a xenofobia, o racismo e a caça desenfreada aos imigrantes ilegais. Se quiser se sair bem, que tome emprestado alguns pontos detestáveis da plataforma habitual da FN. /TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA É CORRESPONDENTE EM PARIS

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