Fallujah registra ao menos 11 casos de suicídio no último mês, segundo a Irin News, desde que as tropas iraquianas fecharam o cerco à cidade
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Por Adriana Carranca
Atualização:
Jameela al-Jassim nasceu com a Guerra do Golfo, em 1990, em Fallujah, às margens do Eufrates. Viveu na infância o luto de uma cidade que teve mais mortes do que qualquer outra no conflito e entrou na adolescência acompanhada de uma nova guerra: a invasão americana, em 2003. A queda de Saddam Hussein transformou Fallujah, de maioria sunita, assim como o regime deposto, num epicentro da insurgência, palco de algumas das cenas mais terríveis produzidas no Iraque.
Quando quatro americanos da empresa de segurança Blackwater foram mortos e seus corpos queimados, arrastados pelas ruas e pendurados para exibição pública na ponte sobre o Eufrates, os EUA responderam com a maior ofensiva militar até então desde a Guerra no Vietnã. Metade das casas foi destruída e milhares foram mortos no embate com militantes da Al-Qaeda no Iraque.
Atentado deixa pelo menos 115 mortos e 170 feridos no Iraque
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Atentado deixa pelo menos 115 mortos e 170 feridos no Iraque
Ataque a um mercado em Khan Beni Saad é considerado um dos mais sangrentos da última década Foto: EFE
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A maioria das vítimas era de etnia xiita, e comemoravao fim do mês sagrado do Ramadã Foto: Karim Kadim/AP
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De acordo com a polícia, um pequeno caminhão detonou explosivos no mercado da cidade de Khan Beni Saad Foto: Karim Kadim/AP
Atentado deixa pelo menos 115 mortos e 170 feridos no Iraque
O ataque aconteceu no primeiro dia do Edi (nome dado ao período após o Ramadã) Foto: Karim Kadim/AP
Atentado deixa pelo menos 115 mortos e 170 feridos no Iraque
O grupo Estado Islâmico assumiu a responsabilidade pelo atentado em uma declaração no Twitter Foto: Karim Kadim/AP
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As tropas do governo reforçaram a segurança na região neste sábado Foto: Agmad Al-Rubaye/AFP
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Após o ataque, testemunhas relatam que pessoas começaram a esvaziar caixas de tomate e as utilizaram para carregar os corpos de crianças Foto: Karim Kadim/AP
Atentado deixa pelo menos 115 mortos e 170 feridos no Iraque
O líder do parlamento iraquiano, Salim al-Jabouri, afirmou neste sábado que o ataque tem uma conotação sectária e que o governo tenta controlar a ação... Foto: KHIDER ABBAS/EFEMais
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A cidade foi umas das últimas de onde as tropas americanas se retiraram, em dezembro de 2011. Jameela se casou e teve dois filhos. Pouco depois, o controle de Fallujah foi retomado por militantes radicais, agora sob a bandeira do Estado Islâmico. O marido de Jameela foi executado por ser policial e sua casa, bombardeada. Há um mês, aos 26 anos, Jameela amarrou os filhos pequenos ao seu corpo com trapos, prendeu junto deles uma pedra e saltou para a morte no Rio Eufrates.
Além do terror do EI, a população de Fallujah passou a viver sob o cerco das tropas do governo de Bagdá, que formaram um cinturão ao redor da cidade na tentativa de conter a expansão dos militantes, o que impede também a saída da população – e, por sua vez, a chegada de comida e remédios. Há relatos de famílias inteiras alimentando-se de uma sopa feita de grama.
“Ela sentiu que todas as suas opções tinham se esgotado”, disse Abu Mohammed, parente de Jameela, à Irin News, agência de notícias dedicada à cobertura de crises humanas, que revelou essa história dramática.
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Jameela e os filhos tinham sobrevivido à guerra, ao terror, ao luto, à fome – até ela decidir que já não valia a pena viver, porque na verdade eles morriam aos poucos. A morte iminente a teria levado a encurtar o processo – e a dor. Pelo menos dez outros casos de suicídio foram registrados em Fallujah no último mês, segundo a Irin News, desde que as tropas iraquianas fecharam o cerco à cidade, arma de guerra perversa usada para estrangular o inimigo, com efeitos devastadores sobre civis.
Para os que conseguem fugir a situação também é cada vez mais desesperadora e casos de tentativa de suicídio entre refugiados têm sido reportados com frequência.
A decisão da União Europeia de devolver refugiados à Turquia, em prática desde segunda-feira, aumentou a incerteza sobre o futuro deles. O acordo foi duramente criticado por organizações humanitárias como Médicos Sem Fronteiras e pela ONU, segundo a qual a simples intenção de pedirem asilo deveria ser suficiente para mantê-los na Europa, de acordo com as leis internacionais.
Refugiados são expulsos da Grécia e enviados à Turquia
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A Grécia iniciou o processo de deportação dos refugiados que chegam às ilhas do país para a Turquia, iniciativa prevista no acordo firmado entre a Uni... Foto: AP Photo/Petros GiannakourisMais
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Mulher síria observa mar no Porto de Chios, na Grécia, onde dezenas de refugiados estão acampados Foto: AFP PHOTO / LOUISA GOULIAMAKI
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Crianças dormem no porto de Chios.A ONU denuncia o fato de que a Grécia possa ter deportado estrangeiros por engano Foto: AFP PHOTO / LOUISA GOULIAMAKI
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Refugiados aguardam distribuição de alimentos em um acampamento improvisado em Idomeni Foto: AFP PHOTO / BULENT KILIC
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Segundo Serviço de Asilo da Grécia,cerca de 3 mil pessoas aguardavam em campos de deportação nas ilhas gregas uma resposta sobre seus pedidos de asilo Foto: AFP PHOTO / BULENT KILIC
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Sob um acordo criticado por agências de refugiados e manifestantes de direitos humanos, a Turquia receberá todos os imigrantes e refugiados que entrar... Foto: REUTERS/Marko DjuricaMais
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O objetivo do acordo é desencorajar os imigrantes a fazer as travessias ilegais, muitas vezes realizadas em pequenos barcos, e quebrar o modelo comerc... Foto: AFP PHOTO / ARIS MESSINISMais
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Atualmente, 52 mil imigrantes estão na Grécia, aguardando para serem reassentados pela Europa Foto: AFP PHOTO / ARIS MESSINIS
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A polícia local acredita que cerca de 500 pessoas serão enviadas para o lado turco Foto: AFP PHOTO / ARIS MESSINIS
Refugiados são expulsos da Grécia e enviados à Turquia
Oficial da Guarda Costeira da Grécia guia refugiados e imigrantes no desembarque Foto: REUTERS/Giorgos Moutafis
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Diante da perspectiva da deportação, o número de pedidos de asilo aumentou recentemente Foto: AFP PHOTO / OZAN KOSE
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Desde a assinatura do acordo entre Turquia e UE, 6 mil pessoas desembarcaram nas ilhas gregas Foto: REUTERS/Giorgos Moutafis
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Pequena balsa turca transporta imigrantes deportados da Grécia para Turquia Foto: AFP PHOTO / OZAN KOSE
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Vários manifestantes expressaram apoio aos refugiados, com direito a uma faixa com frase "Turkey is not safe" ("Turquia não é segura") no terraço de u... Foto: AFP PHOTO / LOUISA GOULIAMAKIMais
Refugiados são expulsos da Grécia e enviados à Turquia
Ativistas alemães carregam faixa de apoio aos refugiados Foto: AFP PHOTO / OZAN KOSE
Refugiados são expulsos da Grécia e enviados à Turquia
Mulher caminha enquanto espera distribuição de alimentos em um campo improvisado de refugiados em Idomeni, na fronteira da Grécia Foto: AFP PHOTO / BULENT KILIC
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Conflito na Síria já deixou mais de 250 mil mortos e levou a um êxodo em massa de sírios para países vizinhos, sobretudo Turquia, Líbano e Jordânia Foto: AFP PHOTO / BULENT KILIC
Em carta publicada no Guardian, refugiados de um campo na ilha grega de Lesbos declararam esta semana que “aceitariam a morte” conjuntamente antes de serem devolvidos à Turquia. Ameaça semelhante de suicídio em massa foi feita por afegãos impedidos de deixar a Grécia e seguir para outros países da Europa. No fim de fevereiro, dois paquistaneses foram presos após tentarem se enforcar em uma praça de Atenas, segundo a Al-Jazeera.
Além da incerteza sobre o futuro, das violações de direitos, das condições precárias em campos lotados e insalubres, de estar longe de casa, da fome, os refugiados têm de lidar com os fantasmas que trazem da guerra. Muitos sofrem de stress pós-traumático, distúrbio comum também entre veteranos, atormentados por flashbacks, pesadelos e ataques de pânico, e perseguidos pela memória dos mortos e desaparecidos e da violência que presenciaram e sofreram. Estudo publicado na revista Science há duas semanas, que analisou 1,3 milhão de registros médicos na Suécia, apontou que o risco de esquizofrenia e outras psicoses era três vezes maior entre refugiados do que entre nativos.
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Nos últimos anos, nos perguntamos o que leva milhares a se arriscarem em travessias perigosas à Europa. A história de Jameela nos dá pistas de seu desespero. Eles fogem na tentativa de viver – mas, sem encontrar saída, podem achar que esta já não é uma opção.