A política repressiva de Erdogan desde o fracassado golpe de Estado na Turquia

Após expurgos, leis controversas e transformação de basílica em mesquita, presidente turco decretou mais de 330 sentenças de prisão perpétua

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Por Redação
Atualização:

ANCARA - Desde a tentativa de golpe de Estado em 2016 contra o presidente Recep Tayyip Erdogan até as mais de 330 sentenças de prisão perpétua declaradas nesta quinta-feira, 26, estes são os acontecimentos mais relevantes em mais de quatro anos de tensão na Turquia.

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Golpe de Estado sangrento falido

Na noite de 15 de julho de 2016, uma fração do exército se revolta, apreende aviões de combate e helicópteros e instaura o pânico nas ruas de Ancara e Istambul. Os conspiradores do golpe atacam o Parlamento e o palácio presidencial. 

O presidente Recep Tayyip Erdogan, de férias, exorta os turcos a saírem às ruas para resistir a esta "tentativa de golpe de Estado". 

Ele denuncia uma "traição" dos soldados golpistas e os vincula ao pregador Fethullah Gülen, que mora nos Estados Unidos há duas décadas. Outrora um aliado e agora seu pior inimigo, Gülen desmente a acusação. 

A tentativa de golpe deixa oficialmente 251 mortos, sem contar os golpistas, e mais de 2 mil feridos.

Expurgos

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Nos dias 16 e 17 de julho, centenas de generais, juízes e promotores são presos por seu suposto apoio ao levante. Os expurgos estendem-se então à polícia, aos professores e à imprensa. Em 20 de julho, Erdogan declarou o estado de emergência. 

Os expurgos começam com os supostos apoiadores de Fethullah Gülen, mas depois afetam o movimento pró-curdo, a imprensa crítica e as ONGs, causando preocupação na Europa

Desde então, dezenas de milhares de pessoas foram presas e mais de 140 mil demitidas ou suspensas de suas funções.

Erdogan consolida seu poder

Em 24 de junho de 2018, Erdogan ganha confortavelmente a eleição presidencial no primeiro turno. 

As eleições marcam a passagem de um sistema parlamentar para um regime presidencial, onde o chefe de Estado concentra o poder executivo, após uma revisão constitucional ocorrida em 2017.

Turcos se reúnem em manifestação a favor do presidente RecepTayyip Erdogan em Ancara Foto: Nicole Tung/NYT

Revés eleitoral

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Em 31 de março de 2019, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, islamo-conservador) lidera as eleições municipais a nível nacional, mas perde em Ancara e Istambul. 

Em Istambul, as eleições são anuladas após apelações do AKP, que alega "irregularidades massivas". A oposição denuncia um "golpe contra as urnas". 

Em 23 de junho, o opositor Ekrem Imamoglu vence novamente em Istambul, naquele que foi o pior revés eleitoral para Erdogan desde que seu partido chegou ao poder em 2002.

Leis controversas

Em junho de 2020, o Parlamento adota um polêmico projeto de lei que fortalece consideravelmente os poderes dos "vigilantes de bairro". A oposição acusa o presidente de querer criar uma "milícia".

Um mês depois, ele aprova um projeto de lei que reforma a estrutura da ordem dos advogados que, segundo os advogados, é uma manobra para reduzir sua independência.

Basílica transformada em mesquita

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Em 10 de julho, Erdogan, buscando consolidar seu eleitorado conservador, anuncia a transformação da antiga catedral Hagia Sophia em uma mesquita, depois que um tribunal revogou o status de museu desse importante ponto turístico de Istambul.

Duas semanas depois, vários milhares de muçulmanos participam da primeira oração.

Controle nas redes sociais

No dia 1º de outubro, entra em vigor uma lei que fortalece o controle das autoridades sobre as redes sociais. Quase todas as gigantes do setor se recusam a aceitar as medidas, o que pode gerar multas a partir de novembro.

Julgamento macro

Em 26 de novembro, no final do julgamento principal sobre a tentativa de golpe em 2016, um tribunal condena 337 pessoas - incluindo oficiais e pilotos de aviação - à prisão perpétua. 

Ao menos 290 julgamentos relacionados à tentativa de golpe foram concluídos e outros nove estão em andamento. 

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Os tribunais já condenaram cerca de 4.500 pessoas, das quais quase 3.000 foram sentenciadas à prisão perpétua. /AFP

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