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A proteção da vida privada na Europa

O prodigioso programa de vigilância eletrônica Prism, desenvolvido pelos americanos e revelado por Edward Snowden, hoje refugiado em Hong Kong, apavora os europeus. A Comissão Europeia em Bruxelas deu a entender que estava muito preocupada com as revelações de Snowden. Os temores ou as indignações dos europeus são de dois tipos: de um lado, eles não aceitam que os serviços de espionagem da NSA (a Agência de Segurança Nacional) possam passear seus olhos malignos, suas mãos bisbilhoteiras, suas orelhas indiscretas no que fazem os europeus graças a esse programa de vigilância eletrônica "monstruoso" (adjetivo usado pelo próprio Snowden). Mas além desse perigo imediato, há um outro sentimento angustiante: as invenções, as novidades surgidas nos EUA, e isso em todos os campos (comédia musical, refrigeradores, Disneylândia, alta tecnologia e drones), chegam sempre na Europa, inevitavelmente, alguns anos depois do que nos EUA. Os EUA dão o tom de todas as próximas músicas que o mundo vai ouvir. Inventivos, precursores e proféticos, eles anunciam as cores com que o restante do mundo se cobrirá amanhã. A questão, portanto, é se a escuta atual de todos os americanos prefiguraria a escuta, amanhã, dos europeus? A bem da verdade, essa luta entre os EUA e a Europa sobre as liberdades individuais dos cidadãos e seu direito ao respeito e ao sigilo é antiga. Bruxelas batalhou anos para conseguir, por exemplo, que o número de dados pessoais que um passageiro europeu deve apresentar às autoridades federais se quiser ir aos EUA fosse limitado. Foi uma vitória significativa no momento em que entramos nessa era em que telefone celular, plataformas numéricas, arquivos, e-mails, conversas eletrônicas, vídeos e fotos podem ser diretamente encaminhados para programas como o Prism. Pesquisas sugerem que os americanos se resignam com muita facilidade a essas intrusões, enquanto os europeus seriam mais desconfiados. Mas é de se temer que, em pouco tempo, os europeus se resignarão como os americanos a deixar os dedos gordos do Big Brother passearem por seus cérebros. Será difícil construir barreiras contra tais perigos. Como sempre, a Europa avança de maneira dispersa. Os britânicos (apesar de ter sido o jornal The Guardian que acendeu o estopim) não parecem indignados. Os alemães, ao contrário, estão furibundos. Jornais ousaram comparar as atitudes da NSA com os métodos da Stasi, a tenebrosa polícia política da República Democrática da Alemanha comunista que colocou parte dos alemães orientais sob vigilância. Mesmo as autoridades alemãs, em geral amáveis com os EUA, estão descontentes. Temem que o sistema americano possa praticar a espionagem industrial em escalas jamais imaginadas.   TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK.

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Por GILLES LAPOUGE
Atualização:

* GILLES LAPOUGE É CORRESPONDENTE EM PARIS.

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