A rebeldia do rock feminino saudita

Banda de garotas é sucesso underground

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Por Robert F. Worth , NYT , Jeddah e Arábia Saudita
Atualização:

Elas não podem tocar em público ou posar para as fotos da capa do álbum. Até as jam sessions são secretas, por medo de ofender as autoridades religiosas. Mas as integrantes da primeira banda de rock totalmente feminina da Arábia Saudita, a Accolade, não têm medo de tabus. O primeiro disco single da banda, Pinocchio, tornou-se um sucesso no meio underground local e centenas de jovens sauditas fazem download da música pelo site do grupo. Agora, o quarteto formado por jovens universitárias quer começar a tocar em concertos - em lugares privados, "só para mulheres" - e gravar um álbum. "Nesse país é um verdadeiro desafio", disse a cantora do grupo, Lamia, que tem piercing na sobrancelha esquerda e em baixo do lábio inferior. (Como as outras integrantes, ela não revelou o sobrenome.) "A geração futura é diferente da anterior", disse Dina, de 21 anos, guitarrista e fundadora da banda. Em setembro, ela e a irmã Dareen, de 19, que toca contrabaixo, juntaram-se a Lamia e Amjad, a tecladista. Elas já eram iconoclastas: Dina e Dareen, muito bonitas, também usam piercings nas sobrancelhas. Durante uma entrevista com a banda, todas usavam o tradicional traje preto das muçulmanas, mas as vestes estavam abertas, mostrando jeans e camisetas que usavam por baixo - e seus rostos e cabelos estavam descobertos. As mulheres têm maior possibilidade de sair descobertas em Jeddah, a cidade mais cosmopolita do reino, do que em qualquer outra parte, ainda que seja pouco comum. Em um país onde mulheres estão proibidas de dirigir e raramente aparecem em público de rosto descoberto, a banda é realmente diferente. Ver roqueiras com guitarras, berrando letras iradas que falam de um relacionamento que não deu certo seria uma cena impensável na Arábia Saudita de pouco tempo atrás. O rígido código de moral pública do país tem-se abrandado aos poucos, principalmente em Jeddah. A mudança pode ser notada desde os ataques terroristas do 11 de Setembro, quando os sauditas se defrontaram com as conseqüências do extremismo dentro e fora do reino. Mais de 60% da população saudita têm menos de 25 anos e muitos jovens começam a pressionar por mais liberdade.

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