
24 de junho de 2011 | 00h00
Sarkozy é bizarro. Inteligente com certeza, inventivo, corajoso. Mas canhestro. No caso do Afeganistão, a decisão atende aos desejos de grande parte da França. Depois de dez anos de fracasso, gastos e mortes, a opinião pública é totalmente contra a guerra.
A inutilidade desses combates no fim do mundo parece evidente para a maioria na França. Essa guerra ilustra a diplomacia "bajuladora" de Paris, sempre a reboque dos outros, ou melhor, a reboque dos americanos. Os franceses eram unânimes: era preciso acabar com essa guerra. Portanto, foi uma decisão feliz essa tomada por Sarkozy.
Quatro mil soldados franceses estão em solo afegão, número que aumentou bastante com Sarkozy. Mas, se o presidente seguiu os passos de Obama, por outro lado resistiu às demandas dos generais americanos quanto à forma de retirada das tropas francesas. Os EUA querem que os franceses continuem no controle do setor de Saroubi - rota de militantes vindos do Paquistão. A França resistiu: será o setor de Saroubi que as tropas francesas deixarão.
Para Sarkozy, a operação, apesar da inconveniência do seu anúncio, é positiva. Em primeiro lugar, o presidente afasta-se do atoleiro. Depois, o retorno de cadáveres dos soldados franceses mortos no Afeganistão era cada vez menos tolerado pela população, pois ninguém consegue compreender o sentido dessas mortes. Ainda, as eleições presidenciais de 2012. Sarkozy se sentirá mais confortável para fazer sua campanha quando se livrar deste fardo. Uma outra consequência: a França está cansada dessas guerras que o seu Exército trava em quase toda a parte - como também na Líbia, uma aventura concebida às pressas e muito mal conduzida. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
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