A rede de intrigas por trás do levante contra Maduro

De acordo com Manuel Cristopher Figuera, ex-chefe da inteligência venezuelana, ministro da defesa e presidente do Supremo participaram dos planos para derrubar o presidente, mas recuaram no último momento; saiba quem é quem na trama

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - O ex-chefe do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) - o serviço secreto da Venezuela - Manuel Cristopher Figuera, que fugiu para a Colômbia e, depois, para os Estados Unidos, após a fracassada tentativa de levante militar contra Nicolás Maduro, em abril, fez uma série de acusações contra figuras do alto escalão do chavismo em entrevista ao The Washington Post.

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Saiba quem são as pessoas e organizações envolvidas na denúncia de Figuera e quais as funções que desempenhavam no entorno de Maduro e no plano para tirá-lo do poder:

• Manuel Cristopher Figuera Ex-chefe do Sebin

Chefe de segurança do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez por mais de uma década. Antes, foi geral do Exército da Venezuela. De outubro de 2018 a abril de 2019, comandou o serviço secreto chavista, acusado de detenções arbitrárias e tortura. Foi um dos arquitetos do fracassado movimento para depor Maduro. Fugiu para a Colômbia e, agora, recebeu proteção dos EUA.

• Exército de Libertação Nacional (ELN) Grupo guerrilheiro da Colômbia

Segundo Figuera, o Exército de Libertação Nacional (ELN) opera na região sul da Venezuela, principalmente no Estado de Bolívar, em atividades relacionadas com áreas de mineração e tem proteção do governo. Em troca, promete ajudar na defesa de Maduro em caso de invasão do país.

• Hezbollah Grupo xiita libanês

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O ex-militar se referiu à presença do grupo xiita libanês Hezbollah em Maracay, Nueva Esparta e Caracas, com atuação supostamente ligada a "negócios ilícitos para financiar operações" no Oriente Médio. Ele disse que "casos de narcotráfico e de guerrilhas não deviam ser tocados" em razão dos acordos com o governo Maduro.

• Raúl Castro Ex-presidente de Cuba

O político cubano foi descrito como um dos principais conselheiros de Maduro e também a quem o líder bolivariano costuma recorrer para resolver os mais diversos problemas do país. "Se Maduro estivesse em qualquer reunião, esta podia ser interrompida se Castro ligasse", afirmou Figuera.

• Nicolás Maduro Guerra Filho de Maduro

O filho de Nicolás Maduro e aparece de forma indireta nas acusações do ex-militar. Em seu relato ao Post, o venezuelano afirmou que um assessor de Guerra era responsável por um empresa que comprava ouro por baixo preço no sul do país para revender acima do preço ao Banco Central da Venezuela. A área dessas mineradoras, no entanto, é a mesma que teria presença dos guerrilheiros do ELN.

Maduro e a mulher, Cilia Flores, participam de ato popular em Caracas Foto: REUTERS/Ivan Alvarado

• Tareck El Aissami Ministro da Indústria

O ex-vice-presidente venezuelano e atual ministro da Indústria do país seria figura-chave de um esquema de lavagem de dinheiro descoberto por Figuera enquanto comandou o Sebin. Aissami também já foi indiciado nos EUA por tráfico de droga, outra atividade que, segundo especialistas, é desenvolvida pelo ELN no sul da Venezuela.

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• Maikel Moreno Presidente do Supremo

O presidente do Tribunal Supremo de Justiça seria uma das peças-chave no plano para derrubar Maduro. Isso porque o acordo previa que ele assinaria uma sentença reconhecendo a legitimidade da opositora Assembleia Nacional da Venezuela, cujas ações foram tornadas nulas pela Justiça. Como o Parlamento já reconheceu Guaidó como presidente interino, isso tiraria a autoridade legal de Maduro. 

Figuera afirmou, no entanto, que ele exigia o pagamento de até US$ 100 milhões para fazer parte do plano. Uma semana antes da data prevista para a assinatura do documento, Moreno teria se mostrado relutante e teria sugerido que ele assumisse a presidência de forma interina em um governo de transição.

• Vladimir Padrino Ministro da Defesa

O chefe das forças armadas venezuelanas seria o outro pilar do movimento para a queda de Maduro. Isso porque os militares são a base de sustentação do governo chavista. Como parte das negociações reveladas por Figuera, depois que Moreno assinasse a lei devolvendo os poderes da Assembleia, Padrino apoiaria o documento e retiraria seu endosso a Maduro.

A fato de os opositores terem adiantado em um dia a mobilização em relação ao previsto teria inviabilizado a assinatura do documento pelo presidente do Supremo e, consequentemente, o apoio de Padrino ao levante.

• Cesar Omaña Médico e empresário venezuelano

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Esse médico e empresário venezuelano foi o responsável por convencer Figuera a apoiar Guaidó na tentativa de depor Maduro. Segundo o Post, Omaña, que mora em Miami, vive um vida dupla: ao mesmo tempo em que era amigo íntimo de uma das filhas de Chávez e de altos funcionários de Maduro também se reunia com membros da oposição. Ao contrário de outros empresários venezuelanos envolvidos na trama, ele não foi acusado de crimes e não foi alvo de sanções americanas. Foi apontado também como um dos responsáveis por restabelecer contato entre Leopoldo López e os americanos.

• Raúl Gorrín Empresário venezuelano

O magnata dos meios de comunicação foi sancionado pelos EUA em fevereiro e indiciado por lavagem de dinheiro. Para tentar se livrar das acusações, no entanto, ele teria sido o idealizador do plano de cooptar o presidente do Supremo venezuelano.

De acordo com um funcionário do alto escalão do governo Trump, o empresário foi informado de que, se o plano desse certo, as proibições de viagem e o congelamento de ativos poderiam ser revertidos. 

• Juan Guaidó Presidente da Assembleia Nacional

Principal líder opositor a Maduro desde o começo de 2019, o presidente da Assembleia e autodeclarado presidente interino do país foi responsável pelo início do levante conta o presidente chavista ao assinar uma lei de anistia para Leopoldo López, então em prisão domiciliar, e dirigir-se para a Base Aérea de La Carlota, em Caracas, onde parte do militares apoiavam seu plano de tomar o poder.

• Leopoldo López Político opositor

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Principal político preso na Venezuela até o levante, foi o mentor de Guaidó. Desde 2014, quando criou o movimento La Salida, defende que Maduro deixe o poder.

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