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A resposta da Europa

Se o plano de Putin era afastar o Reino Unido da UE, convenhamos, ele fracassou

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Por Redação
Atualização:

Desta vez, o jogador de xadrez do Kremlin parece ter subestimado o gênio tático e provocador que sempre lhe permitiu, num passado recente, semear a discórdia na unidade do mundo ocidental. Entretanto, ele havia preparado cuidadosamente seu golpe. Em 4 de março, na periferia de Londres, foram encontrados um agente duplo russo, Serguei Skripal, e sua filha, Yulia, inconscientes, vítimas de gases atrozes, conhecidos dos militares e, às vezes, usados pelos russos.

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Bandeiras de Reino Unido e União Europeia em Londres Foto: AFP PHOTO / Glyn KIRK

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A escolha de Londres para testar a resistência e a unidade do Ocidente fala por si. Há dois anos, o Reino Unido iniciou uma manobra audaciosa e perigosa: sua saída da União Europeia, o Brexit. O país hoje está enfraquecido e isolado. Putin, por sua vez, está obcecado com as alianças e reagrupamentos que se formam no Ocidente e podem, a qualquer momento, usar suas mandíbulas contra a pobre e inocente Rússia.

Duas instituições aterrorizam particularmente a Rússia: a Otan e a União Europeia, formada pela quase totalidade dos países da Europa, alguns deles em contato com o espaço russo. Há dois anos, os britânicos começaram o processo de afastamento da UE. Putin gostaria muito de aprofundar a fissura existente entre os dois lados do Canal da Mancha. 

O crime cometido pelos serviços secretos russos em Londres afastaria um pouco mais os britânicos do bloco europeu. O envenenamento do espião duplo em Londres chocaria a Europa, mas ela se contentaria com alguns murmúrios por delicadeza. Depois disto, deixaria a Grã-Bretanha resolver o drama por conta própria.

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Se foi este o plano de Putin para fragilizar a Europa, convenhamos que fracassou. O mundo ocidental reagiu secamente e se uniu em torno dos britânicos. As feridas do Brexit foram repentinamente esquecidas e, sob o impulso das duas locomotivas da UE, França e Alemanha, vários países responderam à provocação de Moscou com a expulsão em massa de diplomatas russos. Em sete dias, 43 tomarão o trem ou o avião de volta para casa.

Reação americana. Havia uma incerteza, contudo. Donald Trump criaria problemas, como sempre gosta de fazer, ou agiria em conformidade com a resolução dos europeus? Nas chancelarias pairava a inquietação. O comportamento de Trump, mais uma vez, era indecifrável. Não tinha ele telefonado a Putin para felicitá-lo calorosamente por sua eleição, sem fazer nenhuma alusão ao drama ocorrido em Londres? 

No entanto, na segunda-feira, a Casa Branca se manifestou sobre o “odioso ataque” contra Skripal e anunciou a expulsão também de diplomatas russos. Claro que a resposta não foi unânime. Na Europa, uma dezena de países não se aliou contra Putin. 

A Áustria, que tem hoje um governo de extrema direita – do chanceler Sébastien Kurz – invocou sua “neutralidade”, declarando que pretende deixar abertos os canais de comunicação com Moscou. A Grécia, que se congratulou com Putin por sua eleição, está na expectativa. A Bulgária defende uma diminuição da tensão em torno do caso. Mesma atitude da Hungria, que, sabemos, não perde jamais uma ocasião para se afastar da UE, que ela abomina. 

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Portugal não moveu um dedo. Chipre, que permitiu à frota russa aumentar sua presença no Mediterrâneo, evita como pode desagradar o Kremlin. Malta e Luxemburgo ofereceram outro argumento: seu tamanho minúsculo os deixa paralisados. Os diplomatas russos nesses dois países são tão poucos que uma expulsão, mesmo modesta, provocaria o rompimento de relações com Moscou. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO