A saúde dos concorrentes à Casa Branca

A pneumonia de Hillary Clinton deve ser levada a sério, mas outros candidatos tiveram problemas de saúde piores

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Por The Economist
Atualização:

Para uma candidata que talvez se sinta obrigada a exibir um vigor que não se exige de políticos homens, dificilmente poderia haver hora pior para desmaiar: Hillary Clinton foi flagrada perdendo os sentidos ao deixar uma cerimônia em homenagem às vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001. Não bastasse isso, durante alguns dias ela escondeu dos eleitores e de sua própria equipe de campanha o diagnóstico de que estava com pneumonia. A democrata prometeu ser mais transparente no futuro, coisa com que já havia se comprometido antes, e divulgou relatórios médicos detalhados sobre seu estado de saúde. Donald Trump, que é mestre em simular o tipo de transparência que exige dos outros, dispôs-se a passar por uma conversa com o Dr. Oz, um apresentador de TV que, por sua vez, prometeu não fazer a Trump “nenhuma pergunta cuja resposta ele não queira ouvir”. O único informe médico divulgado por Trump até o momento foi assinado por um gastroenterologista, que, posteriormente, admitiu tê-lo redigido em cinco minutos, enquanto uma limusine aguardava em frente a seu consultório.

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Não é possível dizer ainda se, para a campanha de Hillary, os efeitos da pneumonia serão graves ou superficiais. Mas uma coisa é certa: comparada às moléstias que afligiram candidatos presidenciais e presidentes americanos do passado, a começar pelas lancinantes dores de dente de George Washington, a inflamação do lobo médio do pulmão direito da democrata é coisa ínfima. Trump e Hillary já trocaram algumas farpas sobre a franqueza com que um e outro têm falado sobre seus respectivos estados de saúde, mas foram ataques amenos perto dos que circularam na eleição presidencial de 1800, quando partidários de Thomas Jefferson acusaram John Adams de ter um “caráter pavorosamente hermafrodita” e correligionários de Adams espalharam o boato de que Jefferson, na realidade, estava morto.

Para uma combinação de sofrimento excruciante e dose máxima de sigilo é difícil encontrar algo que supere o infortúnio de Grover Cleveland. Segundo o historiador Robert Dallek, do programa que a Universidade de Stanford mantém em Washington, no início de seu segundo mandato presidencial, em 1893, Cleveland passou quatro dias a bordo de um iate, onde seis cirurgiões removeram parte de sua mandíbula superior, em que se desenvolvera um tumor maligno. Para preservar o basto bigode do presidente e não chamar atenção, o câncer foi extraído pela boca.

No século 20, doenças graves foram quase um pré-requisito presidencial. Em seu segundo mandato, Woodrow Wilson sofreu um derrame, que os médicos mantiveram em segredo; os problemas cardíacos de Franklin Roosevelt o mataram quando ele ainda estava na Casa Branca; as enfermidades de John Kennedy dariam um manual de medicina, se tivessem sido reveladas. A angústia que Richard Nixon experimentou durante o escândalo de Watergate pôs um enorme arsenal nuclear nas mãos de um presidente que, temporariamente, talvez não estivesse em seu juízo perfeito. Com um histórico como esse, é compreensível que a saúde dos presidentes americanos seja tema de boletins formais, e é graças a eles que hoje se sabe que Barack Obama toma suplementos de vitamina D e masca chicletes de nicotina (além de realizar exercícios aeróbicos e fazer musculação) e que, no futuro, os historiadores poderão se debruçar sobre os resultados das colonoscopias de George W. Bush. Os candidatos à presidência, porém, não são obrigados a se submeter a esse tipo de escrutínio.

Aparentemente, seria fácil corrigir isso. Mas, em que momento da campanha os exames seriam realizados? Se fossem feitos depois das primárias, um médico poderia se ver na obrigação de eliminar da disputa um candidato que já obteve um mandato democrático. Se acontecessem antes, significaria que na eleição atual todos os 17 pré-candidatos republicanos teriam de ter subido na esteira ergométrica, transformando as primárias numa versão mais dramática do reality show para pessoas obesas The Biggest Loser. Em outras palavras, talvez seja melhor aceitar que os políticos — como todos os seres humanos — às vezes adoecem.