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A UE e os imigrantes

A Europa tem de encarar esse drama de frente, de maneira imparcial, nem a favor nem contra os imigrantes, sem piedade e sem ódio, como se examinasse um problema econômico

Por Gilles Lapouge , Correspondente e Paris
Atualização:

Todas as cabeças pensantes na Europa estão refletindo sobre as últimas peripécias das democracias europeias. Na Alemanha, Angela Merkel retoma seu posto sob o olhar cauteloso de seus aliados social-democratas, que aceitaram apoiá-la como “a corda segura um enforcado”. Na Itália, o Partido Democrático (PD) foi derrotado, mais um sinal da insatisfação com os imigrantes que procuram fugir da sua miséria entrando clandestinamente na União Europeia.

Mais de 100 mil refugiados e imigrantes entraram na Europa nos seis primeiros meses de 2017. Foto: Manu Brabo/AP

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A política de todos os países da UE são conduzidas, dirigidas ou ditadas por esses “sem-teto e sem esperança” que chegam à Europa. Na Polônia, Jaroslav Kasinsky se referia, em 2015, a “perigosas doenças e parasitas” transportados pelos imigrantes. Seu partido, o Direito e Justiça, venceu as eleições. No ano seguinte, a Grã- Bretanha decidiu sair da UE. 

No mesmo ano, Donald Trump, candidato à presidência em um país construído por estrangeiros, afirmou que “todo imigrante é estuprador, ladrão ou as duas coisas ao mesmo tempo”. Na Áustria, a extrema direita chegou ao governo.

No Leste Europeu (Hungria, Eslováquia, República Checa), a caça aos imigrantes é aberta. Apenas a pressão dos imigrantes não explica a derrota dos partidos tradicionais, à direita e à esquerda. Mas o temor e o ódio se somam a outras causas do declínio das democracias europeias.

A recente eleição italiana, dramática para a Europa e angustiante para a Itália, é um caso a examinar. Em 2014, os italianos, tradicionalmente tolerantes com os estrangeiros, foram questionados em pesquisas sobre o assunto. Somente 3% estavam muito preocupados com a questão. Hoje, são 35%. E Silvio Berlusconi, que não é “xenófobo”, defende que 600 mil imigrantes sejam expulsos da Itália. 

O que é certo é que essa torrente de imigrantes não vai secar. Quando avaliamos a coragem cega dessas famílias em farrapos que se arriscam a um naufrágio no mar, depois enfrentam as cercas de arame farpado e a miséria para entrar na Europa, concluímos que esse fluxo não cessará, não importam as medidas adotadas contra eles.

A UE tem de encarar esse drama de frente, de maneira imparcial, nem a favor nem contra os imigrantes, sem piedade e sem ódio, como se examinasse um problema econômico, monetário ou industrial. Como viver com os imigrantes que não podemos proibir nem civilizar, da mesma maneira que não podemos impedir um vulcão de expelir suas chamas? Como a Europa pode viver com os imigrantes sem perder sua alma? Até agora, a única resposta de Bruxelas foi a indiferença, o silêncio, a letargia. 

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A UE deixou a infeliz Itália suportar sozinha esse flagelo sem lhe oferecer nenhum apoio técnico ou subvenções. Hoje, Bruxelas lamenta ver o fracasso do PD, o único partido italiano defensor da Europa. Mas agiria melhor reconhecendo seus erros, admitindo que ela mesma é responsável pelo desastre. O que fazer?

Primeiro, tentar reduzir o fluxo, ajudando os países de onde vêm os imigrantes a desenvolver sua economia. Depois, ajudar os integrantes da UE a acolher decentemente os desesperados, tentando encontrar um lugar no mercado de trabalho para a maioria, por mais humilde que seja. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO 

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