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Abbas consolida poderes para dificultar administração do Hamas

Por Agencia Estado
Atualização:

Na contagem regressiva para a ascensão do Hamas ao poder, o líder palestino Mahmoud Abbas ampliou sua já considerável autoridade ao tomar controle da mídia estatal e nomear aliados para altos cargos do governo. Dessa forma, será mais difícil para os membros do Hamas governar. Os militantes islâmicos, no entanto, em vez de atacar Abbas, direcionaram toda sua fúria a Fatah - isso porque o Hamas precisa de Abbas como um representante respeitado internacionalmente. O grupo também acredita que pode "driblar" algumas decisões de Abbas quando o novo parlamento se reunir, neste sábado. O Hamas, porém, pode não ser capaz de agregar os dois terços dos parlamentares necessários para a formação do governo. Um auxiliar de Abbas disse, nesta terça-feira, que o líder palestino está pronto para uma luta sem limites. "O Hamas fez de tudo para que nós falhássemos, e nós faremos o mesmo com eles", disse o auxiliar, que não quis se identificar pois não está autorizado a falar com a imprensa sobre o caso. "Mas há regras nesse jogo." Por exemplo: Abbas, que foi eleito presidente da Autoridade Palestina em uma eleição separada no ano passado, pode lançar um primeiro ministro apoiado pelo Hamas, mas para isso seria necessário a aprovação da maioria dos parlamentares do Hamas. De acordo com a Lei Básica, Abbas não pode dissolver o parlamento, mesmo se declarar estado de emergência. Enquanto isso, Israel e os Estados Unidos pensam nas várias maneiras possíveis de derrubar o governo do Hamas - principalmente através da economia -, o que talvez faça os palestinos pedirem o retorno da Fatah. O atual primeiro ministro israelense, Ehud Olmert, reiterou, nesta terça-feira, que o governo do Hamas deve ser isolado, posição que, segundo ele, é apoiada pelos Estados unidos e por grande parte da Europa. "Nós não negociaremos com uma Autoridade Palestina dominada totalmente ou parcialmente por organizações terroristas", disse Olmert em visita a líderes judeus americanos. Preparando-se para a batalha, Abbas aumentou sua autoridade ao se se aproveitar da ambigüidade administrativa que lembra o regime autocrático de seu predecessor, Yasser Arafat. Desde 2002, dois anos antes da morte de Arafat, a comunidade internacional se esforça para passar alguns poderes do presidente para o primeiro ministro, cargo de Abbas por um tempo. Em um estranho revés, a luta de Arafat para permanecer com amplos poderes está ajudando agora Abbas. Enquanto presidente, Abbas, além de comandar as forças de segurança, controla os negócios internacionais e se encontra com os líderes de outros países. O advogado geral, que investiga a corrupção na Fatah, reporta diretamente ao presidente. Além disso, as negociações com Israel estão sob jugo da Organização pela Libertação da Palestina (OLP), que Abbas lidera. Os parlamentares palestinos não têm autoridade para anular acordos já assinados com Israel. Outro fator que aumentou seu poder foi a retomada do controle da Palestinian Broadcasting Corp., que transmite a TV Palestina e a estação de rádio Voz da Palestina. No ano passado, Abbas transferiu a autoridade sobre as transmissões para o Ministério da Informação, ministrado por uma pessoa de sua confiança, Nabil Shaath. Deixar a mídia estatal sob supervisão do ministério seria dar ao primeiro ministro do Hamas o controle sobre isto. Na segunda-feira, em sua última sessão, a maioria parlamentar do Fatah deu a Abbas poderes para nomear uma corte constitucional composta por nove membros que darão a palavra final em algumas disputas entre o primeiro ministro e o presidente. Essa corte pode bloquear possíveis tentativas do Hamas de impor a Lei Islâmica. O parlamento também aprovou a nomeação de cinco membros da Fatah para posições-chave no governo, incluindo o chefe do departamento pessoal da Autoridade Palestina, que dirá quem deve ou não ser contratado. Funcionários confirmaram que em pelo menos três ministérios ativistas da Fatah foram rapidamente promovidos após a eleição parlamentar que levou o Hamas ao poder. O Hamas, cujo governo começa formalmente no sábado, terá uma maioria absoluta de 74 legisladores. Esse número, no entanto, não é suficiente para cancelar o veto de Abbas na legislação ou fazer mudanças na Lei Básica. O ideólogo do Hamas, Ghazi Hamad, diz que o partido evita criticar Abbas e afirma que a Fatah está por trás das ampliações dos poderes. "Há canais de entendimentos entre Hamas e Abu Mazen (Abbas), mas o Hamas não aceitará perder os poderes dessa maneira". Comentaristas dizem que é muito cedo para prever quem pode vencer nesta questão. O legislador independente Hanan Ashrawi acredita que "o presidente em parte é mais poderoso (que o governo do Hamas), mas tem de ser cauteloso sobre como exercer esse poder. Ele pode indicar e eleger um primeiro ministro, mas eles (o Hamas) têm o poder de desestabilizar a situação com protestos ou violência".

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