Abbas diz ser ilegal milícia do Hamas na Faixa de Gaza

Para membro do Hamas, ato é "sinal verde para os que querem derramar sangue"

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Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, declarou neste sábado que a milícia paramilitar do Hamas é ilegal na Faixa de Gaza, aumentando o risco de mais violência em uma região marcada por confrontos políticos e ideológicos. Abbas fez a declaração dois dias após membros do Hamas atacarem a casa de um comandante da força Preventiva de Segurança - ligada ao partido do presidente, o Fatah -, em Gaza, matando o homem e sete de seus guarda-costas. "Em vista do contínuo caos na segurança e dos assassinatos que levaram um número considerável de nossos combatentes (...) e tendo em vista a falha das agências existentes e dos aparatos de segurança em impor a lei e ordem e em proteger a segurança dos cidadãos, o presidente Mahmoud Abbas decidiu reformular toda as forças de segurança e sua liderança e considerar a força executiva (do Hamas), seus oficiais e membros, ilegais e foras-da-lei", informou, em um comunicado, o escritório de Abbas. Fatah e Hamas travam uma disputa por poder desde que o grupo islâmico derrotou o Fatah nas eleições parlamentares há um ano. As disputas foram centradas em torno do controle das poderosas forças de segurança palestinas. Com Abbas reivindicando autoridade sobre a maioria das forças de segurança, o ministro do Interior palestino, Said Siyam, do Hamas, formou em 2006 sua própria unidade, conhecida como "Força Executiva". O argumento para a criação de tal unidade foi o fato de o ministro não ter controle sobre as forças de segurança, que permanecem leais a Abbas, e que precisava de guarda-costas para protege-lo e obedecê-lo. O porta-voz do Ministério do Interior, Khaled Abu Hilal, afirmou que o decreto de Abbas abriu precedente para que militantes do Hamas sejam atacados. Ele chamou a decisão de "um sinal verde para aqueles que querem derramar o sangue dos membros da Força Executiva" e acrescentou que a unidade "lidará energicamente" com qualquer um que atacar a unidade. Ele disse, ainda, que Siyam planeja aumentar o número de membros da força para 12 mil homens "devido à deterioração da segurança". Já o primeiro-ministro palestino, Ismail Haniyeh, também do Hamas, afirmou que a milícia é legal e que continuará a responder diretamente ao Ministério do Interior. "Estou ficando completamente convencido de que há pessoas que não querem que os palestinos desfrutem calma e estabilidade ou que comecem a firmar sérios e aprofundados diálogos tendo em vista a formação de um governo de união nacional", disse o premier. Abbas vem pressionando o Hamas a se juntar ao Fatah em um governo de coalizão. Tais negociações foram canceladas no final de novembro. O moderado Abbas quer retomar as conversações de paz com Israel; já o Hamas recusa-se a reconhecer o direito de o Estado judeu existir. Conflito O conflito ficou mais forte desde quinta-feira, quando morreram o chefe do serviço de Segurança Preventiva, Mohamed Ghayeb, e sete de seus guarda-costas, em um episódio que deixou mais de 30 pessoas feridas, incluindo oito crianças. Quando a casa de Ghayeb em Jebaliya (norte da Faixa de Gaza) foi cercada por homens armados, ele conseguiu ligar para uma televisão palestina para pedir ajuda e a matança foi transmitida ao vivo. "Eles são assassinos", disse Ghayeb. "Estão atacando a casa, crianças estão morrendo, elas estão sangrando. Pelo amor de Deus, estamos precisando de uma ambulância, alguém faça alguma coisa." No funeral de Ghayeb, o clima era de revolta. Milhares de pessoas protestaram contra o assassinato, atribuído pelo Fatah a uma força de segurança que está sob o comando do ministro do Interior, Saed Seyam, do Hamas. Membros das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, o braço armado do Fatah, chegaram a ameaçar matar Seyam e o chanceler Mahmud Al-Zahar, também do Hamas. Os apelos do primeiro-ministro Ismail Haniye, do Hamas, e do presidente Mahmud Abbas, do Fatah - que se reuniram duas vezes em menos de 12 horas e pediram o fim dos ataques -, foram ignorados. Na sexta-feira, a agência de notícias Reuters, que teve acesso a documentos do governo americano, informou que a Casa Branca vai transferir US$ 84,6 milhões para Abbas. O dinheiro, de acordo com o documento, se destina a ajudar o presidente palestino a "desmantelar a infra-estrutura terrorista e estabelecer a lei e a ordem nos territórios palestinos". Na prática, ele servirá para fortalecer Abbas em sua disputa com o Hamas, considerado um grupo terrorista pelos EUA. Indignado, o deputado Mushir Al Masri, do Hamas, exigiu que Abbas recuse a ajuda americana e acusou os EUA de ajudar a tramar um "golpe" contra o governo de Haniye. Matéria ampliada às 15h48

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