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Abbas pede reconhecimento pleno da Palestina, mas Israel mantém oposição

Por GUSTAVO CHACRA , CORRESPONDENTE e NOVA YORK
Atualização:

Em meio a calorosos aplausos e a expectativa de estabelecer um marco decisivo em décadas de conflito com Israel, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, proferiu ontem, ante o plenário das Nações Unidas, um histórico discurso de 40 minutos solicitando o reconhecimento da Palestina como membro pleno da ONU. Pouco antes, ele havia entregado formalmente o requerimento ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. "Não acredito que alguma pessoa com um mínimo de consciência possa rejeitar a nossa admissão como Estado independente e membro pleno nas Nações Unidas", disse Abbas. Solenemente, rompendo com o histórico de 64 anos de hostilidade e defesa da luta armada que acompanha os dirigentes palestinos, Abbas prometeu manter a paz com Israel e fez uma dura condenação ao terrorismo. Ele pediu o estabelecimento de um país nas fronteiras pré-1967, englobando a Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental como capital. Abbas apresentou a iniciativa palestina - 18 anos depois de difíceis negociações com base nos acordos de Oslo - como a grande solução para chegar à paz na região.Não é essa, porém, a opinião de Israel. Menos de uma hora depois do pronunciamento de Abbas, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Bibi Netanyahu, subiu à tribuna para deixar clara sua oposição ao reconhecimento dos palestinos e reiterar que Israel só reconhecerá um eventual Estado árabe após negociações e a assinatura de um acordo de paz. Em meio ao impasse, as potências internacionais apresentaram um plano para a retomada das negociações diretas. De acordo com os termos apresentados pelo Quarteto, formado por EUA, Rússia, União Europeia e ONU, israelenses e palestinos devem apresentar "em até três meses propostas de fronteiras e segurança". "Progressos substanciais" devem ser alcançados em seis meses e um acordo final seria assinado antes do fim do ano que vem."Eles precisam tirar vantagem deste momento", disse a secretária de Estado, Hillary Clinton. Nos meios diplomáticos europeus e americanos, alguns acham que a iniciativa palestina na ONU pode ser usada positivamente para exercer pressão para Israel oferecer mais concessões. O pedido palestino será examinado pelos 15 membros do Conselho de Segurança na segunda-feira, onde os EUA já anunciaram que usarão seu poder de veto. Mesmo assim, Abbas tentará uma vitória simbólica e conta com o apoio de Brasil, China, Rússia, Índia, África do Sul e Líbano. Ao longo do fim de semana, tentando evitar um impasse na segunda-feira, as potências intensificarão a pressão para a retomada do diálogo. O líder palestino também alertou que a política de assentamentos de Israel pode "destruir as chances de uma solução de dois Estados" se nada for feito. Abbas ainda rejeitou a exigência de Netanyahu para reconhecer Israel como um Estado judaico porque "afetaria a vida do 1,5 milhão de muçulmanos e cristãos que são cidadãos israelenses". O líder israelense, por seu lado, atacou duramente a ONU, dizendo que "Israel foi mais vezes condenado na entidade do que todos os outros países juntos". Em outro momento, afirmou que o Conselho de Segurança é "presidido pelo Hezbollah". Na realidade, o Líbano exerce a presidência do órgão e o grupo xiita integra de forma minoritária.Deixando claro que não se referia a todos os presentes, disse que a ONU "está repleta de mentirosos". Em seguida, frisou que diria algumas "verdades". "Israel está preparado para ter um Estado palestino na Cisjordânia, mas não está preparado para ter uma outra Gaza ali", disse. "Primeiro os palestinos precisam fazer as pazes com Israel e, apenas depois, terão o seu Estado." Mais adiante, Netanyahu propôs a Abbas um encontro ontem mesmo na ONU.Apesar de defender um diálogo incondicional, Bibi disse que um Estado palestino poderá existir somente se for "desmilitarizado", com presença militar de Israel no Vale do Rio Jordão e Jerusalém indivisível. Netanyahu ainda exigiu, mais uma vez, que os palestinos reconheçam Israel como "um Estado judaico". Para completar, ele afirmou que os assentamentos na Cisjordânia "não são a causa do conflito no Oriente Médio", mas "apenas resultado" da situação.

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