Abertura de pedido de impeachment de Trump ganha força entre democratas

Elizabeth Warren, senadora e pré-candidata presidencial democrata, pede a deputados que iniciem processo, mesmo que ação seja barrada no Senado, de maioria republicana; líderes da oposição exigem conhecer versão sem censura de relatório de Mueller

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Por Beatriz Bulla
Atualização:

WASHINGTON - O movimento pela abertura de um processo de impeachment do presidente americano, Donald Trump, com base no relatório do procurador Robert Mueller, ganhou adesões nesta sexta-feira, 19, nos Estados Unidos, embora a ação ainda divida a oposição e seja rejeitada por republicanos. A senadora democrata Elizabeth Warren, pré-candidata à presidência, defendeu que os deputados comecem o procedimento. 

No mesmo dia, o presidente do Comitê de Justiça da Câmara, Jerry Nadler, intimou o Departamento de Justiça a entregar uma versão sem censura do relatório de Mueller (estima-se que 12% do documento tenha ficado em sigilo).

A senadora democrata Elizabeth Warren afirmou que o Congresso deve abrir processo de impeachment contra Trump para proibir o 'uso corrupto de sua autoridade pelo presidente' Foto: Brendan Smialowski / AFP

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Na quinta-feira, depois de dois anos de investigação, o relatório de Mueller sobre a interferência da Rússia nas eleições de 2016 foi entregue aos congressistas. Apesar de Trump comemorar o que considera sua inocência, o texto aponta contatos entre seus assessores e agentes russos. O relatório também mostra manobras de Trump contra a investigação e aponta que o presidente só foi malsucedido em obstruir o caso porque seus assessores não cumpriram suas ordens.

O conteúdo das investigações reacendeu o debate sobre o impeachment de Trump. “O relatório apresenta fatos que mostram que um governo estrangeiro hostil atacou nossa eleição e Donald Trump recebeu essa ajuda. Uma vez eleito, ele obstruiu a investigação”, escreveu Warren no Twitter. Segundo ela, Mueller colocou o próximo passo nas mãos do Congresso.

A presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, tem adotado um discurso cauteloso com relação aos pedidos de impeachment. Após a declaração de Warren, a porta-voz de Pelosi afirmou que “é preciso dar um passo de cada vez”. Parte dos democratas no Congresso avalia que é hora de mudar a estratégia: em vez de insistir nos ataques ao republicano, segundo esta corrente a tática deveria ser foco no debate de questões internas, rumo à eleição de 2020.

Relatório do procurador especial Robert Mueller sobre o possível conluio da campanha de Trump com a Rússia Foto: Eric BARADAT / AFP

Pouca chance

Nos EUA, assim como no Brasil, um eventual pedido de impeachment precisa passar pela Câmara e depois pelo Senado. Apesar de os democratas terem a maioria dos deputados, os republicanos têm mais senadores. Segundo analistas, ainda que o processo avançasse na Câmara, o impeachment seria barrado no Senado, a exemplo do que aconteceu com Bill Clinton, nos anos 90.

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Já a intimação de Nadler ao Departamento de Justiça exige o material completo até o dia 1.º de maio e aumenta o desgaste do secretário de Justiça, William Barr. Ele vem sendo alvo de críticas por ter indicado que Mueller não apresentou indícios suficientes de obstrução de Justiça, em desacordo com parte do entendimento do procurador.

O Departamento de Justiça classificou a intimação como “prematura e desnecessária” e propôs arranjos com o Congresso para que alguns parlamentares tenham acesso a uma versão do texto com menos trechos censurados. A proposta foi recusada pelos democratas.

No documento de Mueller enviado aos congressistas, o Departamento de Justiça omitiu informações de quatro categorias, entre as quais estão fatos que podem prejudicar investigações em andamento.

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Nesta sexta, Trump usou o Twitter para criticar o relatório do procurador especial. Ele chamou o documento de 448 páginas de “Relatório Louco do Mueller” e falou em informações “fabricadas e totalmente falsas”. “Grande perda de dinheiro e de energia”, disse Trump, sobre a investigação.

O presidente americano, no entanto, foi alvo de integrantes do seu partido. O senador republicano Mitt Romney disse que estava “enojado” com as revelações da investigação. “Estou enojado com a extensão da desonestidade e da má orientação por parte dos indivíduos no mais alto cargo, incluindo o presidente”, escreveu o senador, em comunicado.

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