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Premiê da Etiópia, Abiy Ahmed ganha Nobel da Paz 2019

Honraria foi concedida 'por seus esforços para alcançar a paz e a cooperação internacional, principalmente por sua iniciativa decisiva destinada a resolver o conflito na fronteira com a Eritreia'. Você concorda? Vote na nossa enquete

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Por Redação
Atualização:

OSLO - O Nobel da Paz 2019 foi concedido nesta sexta-feira, 11, ao primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, de 43 anos, pivô da reconciliação entre o país e a Eritreia. Ele recebeu o prêmio "por seus esforços para alcançar a paz e a cooperação internacional, principalmente por sua iniciativa decisiva destinada a resolver o conflito na fronteira com a Eritreia", afirmou a presidente do Comitê Nobel, Berit Reiss-Andersen.

Abiy Ahmed é primeiro-ministro da Etiópia Foto: Francisco Seco / AP

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A Etiópia está "orgulhosa como país" com o anúncio do prêmio, disse o chefe de governo local no Twitter, destacando que isso é o "reconhecimento" do trabalho do premiê em favor da "cooperação, unidade e coexistência". Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, a aproximação entre a Etiópia e a Eritreia impulsiona a estabilidade na região.

O anúncio foi na contramão de diversas casas de aposta, onde o nome mais cotado para ganhar o Nobel da Paz este ano era o de Greta Thunberg.

O prêmio significará um impulso para o governante, que enfrenta uma onda crescente de violência entre diferentes grupos em seu país, onde estão previstas eleições legislativas em maio de 2020.

"Honrado e feliz" pelo reconhecimento, Ahmed agradeceu a um "prêmio concedido à África". "Imagino que outros líderes na África pensem que é possível trabalhar nos processos de construção da paz em nosso continente", disse o jovem líder etíope em uma breve conversa por telefone com as instituições do Nobel.

Quem é Ahmed?

Abiy Ahmed rompeu com quase duas décadas de conflito entre seu país, o segundo mais populoso da África, e a Eritreia, seu pequeno e isolado vizinho.

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Quando se tornou primeiro-ministro da Etiópia em 2018, deixou claro que desejava retomar o processo de paz paralisado, trabalhando em estreita cooperação com o presidente da Eritreia, Isaías Afwerki.

As duas nações compartilham laços étnicos e culturais profundos, mas até julho de 2018 elas estavam presas em uma espécie de guerra fria, conflito que separou famílias, complicou a geopolítica e custou a vida de mais de 80 mil pessoas durante dois anos de violência na fronteira.

Embora ainda haja trabalho a ser feito para garantir uma paz duradoura, o Comitê do Nobel, na Noruega, observou em sua citação que "Abiy Ahmed iniciou reformas importantes que dão a muitos cidadãos a esperança de uma vida melhor e de um futuro melhor".

Berit observou que Ahmed ainda não havia sido contatado por telefone. "Se ele está me vendo agora, gostaria de transmitir meus mais calorosos parabéns", disse ela.

Por que o trabalho de Ahmed é importante?

O acordo de paz assinado há mais de um ano entre Ahmed e Afwerki se traduziu lentamente em medidas concretas para reconectar as duas nações. Mas isso tem sido apresentado como um exemplo de como as mudanças históricas podem ocorrer mesmo nos conflitos mais antigos e intratáveis. 

As relações diplomáticas entre Etiópia e Eritreia foram retomadas, e os dois líderes e altos funcionários dos dois países se reuniram diversas vezes para discutir como se reconectar.

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"A paz não surge apenas das ações de uma das partes", disse Berit ao anunciar o prêmio. "Quando o primeiro-ministro Abiy estendeu a mão, o presidente Afwerki a agarrou e ajudou a formalizar o processo de paz entre os dois países."

Vale ressaltar que as telecomunicações entre os dois territórios foram restauradas, permitindo que as famílias que foram divididas na guerra entrassem em contato. 

Nos dias que se seguiram a esse avanço, alguns etíopes telefonaram para números da Eritreia aleatoriamente e vice-versa, apenas para falar com alguém do outro lado, simplesmente porque podiam. Outros rastrearam pais, irmãos e amigos.

Quando o primeiro voo comercial da Ethiopian Airlines de Adis Abeba para a capital da Eritreia, Asmara, pousou no dia 18 de julho de 2018, os passageiros que saíram do avião ficaram de joelhos e beijaram o chão. 

Duas irmãs separadas do pai na guerra, presas em lados opostos da fronteira, o abraçaram pela primeira vez após 20 anos de crescimento sem ele. / AFP e NYT

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