Aborto torna-se desafio para Romney em reunião

Declaração desastrada de congressista republicano força candidato conservador a abordar questões polêmicas às vésperas da convenção do partido

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Por HOUSTON e EUA
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A decisão dos delegados da convenção republicana de se oporem ao aborto, sem fazer nenhuma exceção explícita ao estupro e ao incesto, representa um desafio político para Mitt Romney, que se prepara para aceitar a indicação presidencial em Tampa, Flórida, na segunda-feira. Portanto, ela coloca o Partido Republicano em conflito com Romney, que é favorável às exceções nesses casos, no momento em que os comentários controvertidos do congressista Todd Akin, candidato republicano ao Senado por Missouri, intensificam as análises sobre essa questão social. Akin afirmou no fim de semana que o organismo das mulheres resiste a engravidar no caso de um "estupro legítimo". Seu comentário foi condenado em todo o país, até mesmo por Romney que pediu a Akin que retirasse sua candidatura. "Hoje, seus colegas de Missouri pediram que ele desista, e acho que ele deveria aceitar o conselho e abandonar a corrida ao Senado", afirmou Romney num comunicado, referindo-se a ex-senadores de Missouri, como John Ashcroft, Kit Bond, John Danforth e Jim Talent. Mas, na terça-feira, Akin recusou-se a abandonar a disputa. Os assessores de Romney não quiseram comentar se ele pretende pedir aos delegados na convenção que reconsiderem a posição sobre o aborto. Telefonemas e e-mails para meia dúzia de assessores a respeito do assunto não tiveram nenhuma resposta. Reince Priebus, presidente do Comitê Nacional Republicano, tentou desviar-se das perguntas, afirmando no programa Fox News: "Essa é a plataforma do Partido Republicano, não é a plataforma de Mitt Romney". A relutância em falar do caso reflete a delicada posição em que Romney se encontra na questão da política sobre o aborto. Romney, que no início da sua carreira política era favorável ao aborto, mais tarde mudou de posição. Neste ano, ele conseguiu a indicação de um partido cujos ativistas mais radicais ainda desconfiam de uma conversão tão tardia à sua causa. Mas, às vésperas da convenção em Tampa, na próxima semana, Romney mais uma vez está sendo obrigado a manobrar com todo o cuidado entre as posições contrárias ao aborto, sem nenhuma concessão, da base do seu partido, e a tendência política mais moderada dos eleitores indecisos que ele precisa conquistar. A votação sobre a plataforma é uma parte importante dos esforços do Partido Republicano para convencer sua base conservadora. Romney e seus assessores trabalharam incansavelmente a fim de garantir que os conservadores em matéria de questões sociais presentes na convenção - e os eleitores que eles representam - não se sintam marginalizados. A plataforma partidária - e as posições assumidas a respeito do aborto, casamento entre homossexuais e outras questões sociais - é uma parte fundamental desse esforço. Se Romney rejeitar o programa político radical do partido, transmitirá uma informação politicamente difícil para os conservadores sobre o seu futuro governo, no caso de ele chegar à Casa Branca. Na convenção também haverá uma onda de ressentimento conservador que poderá desviar as atenções do evento cuidadosamente coreografado que os estrategistas de Romney estão preparando. Além disso, a campanha de Romney procura de todos os modos assegurar que a convenção transmita uma imagem que agrade aos eleitores indecisos nos Estados decisivos. Os assessores não previam que teriam de trabalhar intensamente as posições do partido sobre o aborto esta semana. / THE NEW YORK TIMES

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